Manuel de Oliveira in "Memórias e Autobiografia de um Emigrante"
"O tipo, vestido de branco com calças pretas e uma risca a brilhar, traz-nos uma garrafa de vinho espumante, muito bem agasalhado numa toalha branca... O outro companheiro encarregou-se de nos servir uma espécie de concha do mar, cheia com um pouco de peixe ralado com salsa. Que, apesar de ser pouco, ficou ali todo.Terminada que foi esta cerimónia, preparámo-nos para pedir a conta. E com as mesmas palavras: "Monsieur, s'il vous plaît", a conta foi-nos entregue. 3 500 francos, que pagámos, honradamente, por nos atenderem. Porém, o pior estava à nossa espera, precisamente ao princípio da escada. Uma espécie de enfermeira, vestida de branco, segurava a nossa gabardine pronta a servir. Outra segurava o chapéu e outra mais, o guarda-chuva. Cada uma delas repetia a mesma música: "s'il vous plaît, merci, merci, merci...".
Cada uma delas pretendia uma nota de 100 francos, nada menos. Mas como tivessemos muitos trocados, demos-lhes a uma delas, uma moeda muito leve, creio que 25 francos. Aí a música dobrou, pois ela nem lhe pegou, e continuou no nosso rasto, repetindo uma e outra vez "S'il vous plaît, s'il vous plaît...", quase a tirar-nos as últimas moedas dos bolsos. Sem mais aquelas, agarrei num punhado de francos do bolso e pousei-os, cintilando sobre a mesa, dizendo em Francês-Português-Castelhano: "C'est fini, não tener más".
"O tipo, vestido de branco com calças pretas e uma risca a brilhar, traz-nos uma garrafa de vinho espumante, muito bem agasalhado numa toalha branca... O outro companheiro encarregou-se de nos servir uma espécie de concha do mar, cheia com um pouco de peixe ralado com salsa. Que, apesar de ser pouco, ficou ali todo.Terminada que foi esta cerimónia, preparámo-nos para pedir a conta. E com as mesmas palavras: "Monsieur, s'il vous plaît", a conta foi-nos entregue. 3 500 francos, que pagámos, honradamente, por nos atenderem. Porém, o pior estava à nossa espera, precisamente ao princípio da escada. Uma espécie de enfermeira, vestida de branco, segurava a nossa gabardine pronta a servir. Outra segurava o chapéu e outra mais, o guarda-chuva. Cada uma delas repetia a mesma música: "s'il vous plaît, merci, merci, merci...".
Cada uma delas pretendia uma nota de 100 francos, nada menos. Mas como tivessemos muitos trocados, demos-lhes a uma delas, uma moeda muito leve, creio que 25 francos. Aí a música dobrou, pois ela nem lhe pegou, e continuou no nosso rasto, repetindo uma e outra vez "S'il vous plaît, s'il vous plaît...", quase a tirar-nos as últimas moedas dos bolsos. Sem mais aquelas, agarrei num punhado de francos do bolso e pousei-os, cintilando sobre a mesa, dizendo em Francês-Português-Castelhano: "C'est fini, não tener más".
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