Aos do Dominguiso, nas Traseiras do Litoral
Mal acordei, uma voz vinda do exterior, atravessou lençóis e mantas e gritou-me a novidade: está a nevar! Quase em pelota, saltei da cama e acerquei-me da janela. Nevava. Os telhados da aldeia testemunhavam de forma já exuberante o acontecimento.
Aprontei-me, vi a máquina fotográfica a olhar para mim com insistência e, quase sem pequeno almoço tomado, fiz-lhe a vontade: num ápice, quarenta fotografias "para a posteridade". Quase ninguém na rua.
Entretanto, a um dos que apareceu, a pergunta:
- Há quanto tempo não nevava aqui na aldeia?
- Há quinze dias... - disseram-me.
Engoli em seco: esta, se é festa, é para lisboeta que chega e quer tudo o que lhe saiba a fruta, lhe cheire a rosmaninho, lhe alegre o olhar, lhe satisfaça a gula.
Voltei a casa, puxei as orelhas à roupa da cama que deixara em desalinho, apaguei o aquecimento a óleo que comprara na cidade e fui-me à lenha fazer labareda. É a "refeição" que se deseja: neve entre giestas e chamas na lareira pronta a combater o gelo que se tenta escapar pelas frinchas das portas.
Conheço o encanto do embate, mas só um grande esforço de memória me leva a cenário idêntico ao que hoje me expulsou dos cobertores.
Parecido com isto, melhor do que isto, só a neve que vi cair em Lisboa. Não que fosse mais bonita... Não! Eu é que era muito mais novo e ainda gostava de brincar... Não, não é assim! Agora não gosto de brincar, é verdade, mas gosto de acordar e vir para a rua tirar retratos, como quem brinca, enquanto a fogueira, em tons de vermelho, amarelo e azul, ajuda à festa. Que, afinal, é sempre nova.
Mal acordei, uma voz vinda do exterior, atravessou lençóis e mantas e gritou-me a novidade: está a nevar! Quase em pelota, saltei da cama e acerquei-me da janela. Nevava. Os telhados da aldeia testemunhavam de forma já exuberante o acontecimento.
Aprontei-me, vi a máquina fotográfica a olhar para mim com insistência e, quase sem pequeno almoço tomado, fiz-lhe a vontade: num ápice, quarenta fotografias "para a posteridade". Quase ninguém na rua.
Entretanto, a um dos que apareceu, a pergunta:
- Há quanto tempo não nevava aqui na aldeia?
- Há quinze dias... - disseram-me.
Engoli em seco: esta, se é festa, é para lisboeta que chega e quer tudo o que lhe saiba a fruta, lhe cheire a rosmaninho, lhe alegre o olhar, lhe satisfaça a gula.
Voltei a casa, puxei as orelhas à roupa da cama que deixara em desalinho, apaguei o aquecimento a óleo que comprara na cidade e fui-me à lenha fazer labareda. É a "refeição" que se deseja: neve entre giestas e chamas na lareira pronta a combater o gelo que se tenta escapar pelas frinchas das portas.
Conheço o encanto do embate, mas só um grande esforço de memória me leva a cenário idêntico ao que hoje me expulsou dos cobertores.
Parecido com isto, melhor do que isto, só a neve que vi cair em Lisboa. Não que fosse mais bonita... Não! Eu é que era muito mais novo e ainda gostava de brincar... Não, não é assim! Agora não gosto de brincar, é verdade, mas gosto de acordar e vir para a rua tirar retratos, como quem brinca, enquanto a fogueira, em tons de vermelho, amarelo e azul, ajuda à festa. Que, afinal, é sempre nova.
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