Nesta série de apontamentos a propósito de uma Volta ao Mundo (em ... 90 dias), é hoje a vez de aqui deixar, com parcimónia NETiana, um "testemunho" que, não sintetizando nada, me empurra para a exclusividade que lhe dou, fazendo, do mesmo passo, digo eu, apelo à leitura atenta de uma frase de Almada Negreiros, que também lembro...
Vamos à transcrição da prosa:
"EXIJO!"
"O ensino da língua portuguesa é peça vital da nossa estrutura de acompanhamento dos filhos dos emigrantes. Daí o interesse em ouvir um dos professores que, na Alemanha, o ministram às nossas crianças.
Para o efeito, contactei a Embaixada de Portugal em Bona e, em poucas horas, estava à fala com uma professora portuguesa de Dusseldorf, cidade de que, por ser um centro de maior concentração de compatriotas nossos naquele país, fizera o meu quartel-general para a colheita de elementos.
Assim, no mesmo dia em que, pessoalmente, dera conta, na nossa representação na capital da R.F.A.,do meu interesse, recebi no hotel o telefonema da professora, entretanto contactada pela embaixada portuguesa para o fim em vista. E logo se combinou que me deslocaria, por interesse recíproco de horários, à escola onde a professora leccionava as crianças portuguesas, aproveitando um intervalo das aulas, por volta das onze da manhã.
Chegado à escola, procurei de imediato a professora e tudo parecia ir decorrer com naturalidade. Porém, quando estavamos a combinar a sala em que o trabalho se efectuaria, entrou de repente a respectiva directora (que mais parecia um homem de saias...), que, desabridamente, quis saber o que se passava. Lá lho explicou a professora (que, aliás, é funcionária pública portuguesa, subsidiada pelas autoridades alemãs) sem, contudo, ter conseguido fazer acreditar a directora da impossibilidade de o ter feito mais cedo... Tudo "esclarecido", porém, foi posta à nossa disposição uma pequena sala e...e a entrevista iniciou-se...
Decorria a gravação há já uns minutos quando a srª directora do colégio volta a aparecer para, com um olhar desvairado, nos comunicar:
- "Stop", não continuem!... Acabo de falar, pelo telefone, com o director-geral da região que exige a presença desse senhor junto dele!... Só posso consentir a entrevista com uma autorização escrita.
Telefonei, de imediato, para o Consulado de Portugal a relatar o incidente a que, naturalmente, era alheio e, tudo esclarecido, saí...
"- Boa tarde, senhora directora. Agradeço que diga ao senhor director-geral que tinha muito prazer em falar com ele...mas, mas... tenho de partir hoje da Alemanha..."
A entrevista, entretanto, completou-se mais tarde no consulado português. E eu vim para Lisboa no dia seguinte, pensando no quanto deve ser, de facto, difícil a adaptação dos portugueses aos que se fazem respeitar - EXIGINDO."
Geneticamente, que eu saiba, português não é assim, noto agora... A verdade é que, acrescente-se, "naquele tempo", não estavámos, formalmente, na mesma secretaria europeia... E, a meu ver, a Alemanha tinha ainda tiques de que a "outra" Europa não gostava...
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