terça-feira, 7 de setembro de 2010

Palavras em saldo

6º Dia


"Ontem à noite (...) surpreendi-me a inclinar a cabeça para não sei que interlocutor imaginário com o súbito desejo de chorar que me envergonhou.


O melhor, de resto, é levar a experiência até ao fim - quero dizer, mantê-la, pelo menos, durante algumas semanas. Farei o possível até por escrever sem crivo tudo o que me vier à cabeça (acontece-me ainda hesitar na escolha de um epíteto, de me corrigir). Depois encafuarei esta papelada no fundo de uma gaveta e relê-la-ei um pouco mais tarde, com todo o sossego".


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"Eis uma das mais incompreensíveis infelicidades do homem: o ele ver-se obrigado a confiar o que tem de mais precioso a qualquer coisa de tão instável, de tão plástico, ai de nós, como as palavras! Muita coragem era precisa para estarmos sempre a verificar a chave e adaptá-la à sua própria fechadura. Preferimos pegar na primeira que se nos depara, forçar um pouco, e, se a lingueta gira, é quanto basta."


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"Se não és largo de ombros, tens coração, mereces servir na infantaria. Mas lembra-te do que eu te digo: não consintas que te evacuem para a retaguarda. Quem um dia se alistou na infantaria nunca mais de lá sai. Não foste feito para a guerra de usura. Caminha direito diante de ti e prepara-te para acabar um dia tranquilamente dentro de um fosso sem chegares a desafivelar nunca a tua mochila."


in "Diário de um pároco de aldeia", de Georges Bernanos

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