terça-feira, 5 de outubro de 2010

Como quem tenta um poema ( IX )

De repente, na multidão, quase o poema...


Disse, como quem fala em família:


- Sabe que idade tenho?...


- Não!... Talvez uns ... uns oitenta ...


- Noventa e dois!!! Chamo-me Jacinto (disse-me o nome completo...). A minha mãe morreu de parto aos 25 anos e o meu pai aos 30.


- É casado?...


- Fui casado 62 anos. Casei aos...a minha mulher faleceu há seis anos...


- Tem filhos?


- Não.Não quis... Vivo só. Mas a minha casa pode ver-se...


- O que fazia?...


- Era metalúrgico. 58 anos de profissão sem uma baixa. Nunca faltei, nem por doença, nem por nada... Deixei de trabalhar aos 65.


- Bravo!  O meu amigo é quase da idade da República Portuguesa... Foi um prazer! 


No meio daquilo tudo, não cantámos o hino juntos. Mas a poesia andou por ali, no Terreiro do Paço, por iniciativa de um quase centenário - que queria falar, falar, falar...


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