O texto que se segue é a parte principal de uma adaptação recente para o discurso masculino, cujo original escrevi, oportunamente, A PEDIDO, para ser lido (no feminino) por uma das organizadoras do I Congresso Português de Mulheres Empresárias - que, a meu ver, "se assustou"...e acabou por dizer duas tretas de circunstância...
"Enquanto na esterilidade da maior parte dos clubes feministas do nosso tempo se debatem (ou nem sequer isso...) pormenores que, aliás, pouco têm a ver com as autêntiacas questões que respeitam à condição feminina, esquece-se a verdade maior: a mulher é a própria Natureza. Tem, em relação à semente, o valor da terra mater. Multiplicou a Humanidade em séculos de amor. Mas foi mais: quando os homens se ausentaram, ficou e coube-lhe, por acréscimo, o papel que lhe estava confiado - no amanho das terras, no cuidar da seara, no recato exigente da oficina.
No nosso caso particular, as portuguesas experimentaram o que é estar à beira-praia de olhar húmido, mas determinado, a ver partir os das Descobertas, mas também souberam o que é assumir uma rectaguarda de trabalho e saudade. Pede-se-lhes, sempre se lhes pediu, que se desdobrassem. O adeus às caravelas que partiram significou, de cada vez, o apelo às forças naturais mais recônditas da sua condição.
Em Quinhentos tiveram que gerir o que ficou, sem deixar afundar a Pátria. Pode dizer-se que, aprofundadas as coisas, há oito séculos que, em Portugal, governam em silêncio. Anonimamente. Sobretudo nos momentos das grandes abaladas dos homens: aquando da Epopeia dos Descobrimentos, durante as guerras que as deixaram sós com filhos e netos de berço ou em idade escolar - e com esta Lusitânia que igualmente amam sem condições. Geriram a ausência. Os homens que "deram novos mundos ao Mundo" souberam que, nelas, ficava a Mulher que às terras do solo perdido da vista não faltaria o arado da sua vontade, do seu querer.
Os das naus não ignoravam que às paragens por achar se juntariam, na volta, as empresas entregues às que haviam ficado secando lágrimas. Portugal, país de homens das Sete Partidas, só o conseguiu ser porque teve mulheres que o continuaram, em particular, com o seu trabalho. Das operárias terão, assim, nascido empresárias, rurais e outras, que a história não regista ou dá, porventura, designação diversa - ou nenhuma.
As mulheres têm no nosso País a grandeza discreta da serenidade actuante. Ao nervoso do "até à volta", respondem com a força da natureza que as singulariza. São complemento. Nem mais, nem menos do que os homens, embora se identifiquem com as origens.Contudo, importa dizê-lo, nem sempre assim foram consideradas. Difíceis e lentas têm sido as lutas para impor o óbvio. Séculos de revolta para dizer - e fazer valer o que, afinal, parece agora constituir, no mundo civilizado, motivo de discussão. Até certo ponto, já ganharam a batalha da aparência. Falta, contudo, vencer o desafio da autenticidade, no respeito pelos direitos da diferença.
Envergonham-se hoje os das leis de esquecer nos códigos as alíneas que consagram igualdades culturais e de oportunidades. Não vão, por certo, as que a tais manuais de princípios tenham acesso, virar tudo ao contrário... É que mulher é mãe - e mãe é mão que se dá sem olhar a sexo, raça ou credo.
(...) A luta das mulheres, de 640 milhões de mulheres que constituem o corpo feminino laboral activo em todo o Mundo, começa a dar frutos. Quanto mais não seja pela consciência cada vez mais generalizada da força vital que representam nas diversas áreas da actividade humana. O reconhecimento prático da sua acção, nos tempos de desafio que vivemos, começa a ser um facto. Multiplicam-se em todos os continentes, e a própria ONU acompanha e promove quanto lhe é possível nesta área, as iniciativas e organizações que dão bem a nota do que representa o papel da mulher na vida moderna.
Ganharam "o direito à participação, uma das ideias básicas da democracia".
Num mundo onde, sem prejuízo das identidades nacionais e regionais, as fronteiras de arame farpado, ou de betão, começam a ser visão do passado e o repto do ano 2000 está à porta - para todos, independentemente do sexo a que pertençam, da sua origem pátria e social.
(...) São, na verdade, em todos os sentidos, hoje como ontem, uma força vital ao serviço da Humanidade. Na defesa pátria, se necessário, na agricultura como no comércio, nas artes, na indústria como nos serviços. Lavram a terra ao lado dos homens, ou na sua ausência; com eles enfrentam as subtilezas e o dinamismo do comércio; ombro a ombro consigo accionam as rodas dentadas da indústria e "infiltraram-se" nos meandros dos serviços.
Estão.São. Actuam. Valerão, entretanto, tanto mais quanto maior capacidade organizativa revelarem - no quotidiano, no trabalho, nos negócios. A força que a história lhe reconhece e o Mundo da Era da Informática confirma, está nas suas mãos, sem que tenham que deixar de continuar a ser excelentes esposas e boas mães.
Se quiserem, são melhores porque, sem perderem a condição feminina que a genética lhes confere, estão em circunstâncias únicas para enfrentar os desafios da vida económica, social e política deste final do século XX, precursor de novas idades, a exigirem a rijeza do ferro, a ductilidade do bronze, a inteligência da unidade na diversidade, própria da Democracia (...).
* Na sua humildade, permita-se-me que ilustre este "post" com uma fotografia de minha mãe, a quem aproveito para prestar profunda HOMENAGEM.
Amável, Helena Vasconcelos, enviou-me o seguinte comentário: "Que bonito, Marcial! Bela homenagem a sua mãe! Obrigada pela partilha. Um abraço, Helena."
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