De uma palestra feita em Santarém, 1993 - a convite dos Rotários
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Separado dos "States" por um risco na terra, o Canadá também tem que se lhe diga. De Santarém, entre 66 e 90, entraram lá 3 047 primos nossos e do Pinto. Mas, nesse período, o total de portugueses que ali chegaram para trabalhar, consta que foi de 103 607, com menor incidência de açorianos do que para os EUA. Entretanto, se recuarmos a 1988 (5 646 emigrados para este país) talvez seja interessante referir que a actividade profissional dos portugueses se repartia aí por: sector primário - 203; sector secundário - 1183; sector terciário - 364; sem actividade económica definida - 3896 portugueses. Emigrantes isolados, partiram 1 214; emigrantes em família, contaram-se 4 432.
Interprete de uma certa forma de estar, registo a presença em Toronto do padre Alberto Cunha, meu conhecido, que, dizem as más línguas, pregava na igreja a salvação das almas e no exterior a salvação do corpo - como angariador de seguros...
Poderia ainda falar-vos de Martha Teles, a pintora que o Museu de Arte Moderna da Gulbenkian, nomeadamente, bem conhece. Poderia falar-vos de Armando Santiago, pedagogo, compositor e chefe de orquestra no Canadá. Poderia falar-vos do proprietário, redactor, vendedor de anúncios e locutor que tinha na redacção da sua estação de rádio, quatro telefones com números de rede diferentes, que, em corrida permanente, atendia, sozinho, em nome das "secções" de Desporto (telefone nº 1), Política Nacional (telefone nº 2), Política Internacional (telefone nº 3) e Notícias de Portugal (telefone nº 4).
Opto, contudo, pela transcrição de uma carta de um dos que, sem saber, tem, pelo menos, um primo que a história contempla:
"O meu primeiro trabalho durou cinco meses num "farm" de Quebec. Eu que nunca tinha tirado leite a uma vaca, logo de manhã cedo, vejo-me em frente de oitenta. Eu sabia onde é que as vacas davam leite, mas tirá-lo...
Depois de lavar o úbere aos animais, pego nm banquinho e sento-me lá num canto, onde estava uma vaca mais escondida. Sabe, eu queria aprender por mim, mas aquilo era uma desgraça. Puxava com força e suor corria-me até ao balde, mas o leite vinha para cima das calças. Tentava com a outra mão, mas não era capaz de acertar no balde. Hoje rio-me, mas não era para rir. Eu só pensava numa coisa: "Se esta gente me manda embora, para onde vou eu, com uma dívida em Portugal?" E o patrão vigiava-me e via a minha ânsia. Era boa gente. Trataram-me muito bem.
Cinco meses depois, pedi mais dinheiro, mas eles também eram pobres e não podiam dar mais. Tive que sair porque $55 dólares por mês não me resolvia a vida. E fui para o norte de Quebec trabalhar nas madeiras."
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