Apresentado por António Valdemar, conheci pessoalmente o Prof. Agostinho da Silva há cerca de 30 anos, na sua casa da Travessa do Abarracamento de Peniche, 7-3º, em Lisboa, onde se entrava, salvo erro, após três toques na campaínha da porta, espécie de código que franqueava o acesso desejado.
Agostinho da Silva, presente! "Licenciado em liberdade" e "doutorado em raiva".
Das suas Cartas Várias o eventual revigoramento de que precisamos:
"Chegado aos 80, que faço hoje mesmo (13.2.86), pareceu-me que seria interessante, pelo menos para mim, dizer alguma coisa aos Amigos. A primeira é a de que a saúde parece ir bem, com o coração reeducado a nitroglicerina - pelo menos para que não tenha medo do terrorismo internacional - e com a chamada vida material, de tão alto interesse de espírito, sustentada pela pensão brasileira da Universidade Federal de Santa Catarina, pela, por enquanto, bolsa de estudo do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, e por quem acha, com alguma extravagância, que é útil que eu exista e continue fazendo algum trabalho.
Para regularizar este ponto, estou criando, na fantasia e no concreto (já funciona há mais de um ano) uma, chamemos-lhe assim, FUNDAÇÃO, de que um dia vos falarei mais de largo, na qual deposito toda a bolsa do ICALP e o que poupo do resto ou contribuem Amigos."
"Do que será, para o futuro, a FUNDAÇÃO decidirão os Fados (...) Escusado será dizer que da FUNDAÇÃO todos são criadores e sócios, ou companheiros, que é este o sentido próprio da palavra latina de que a nossa vem: até, talvez seja melhor a de "companheiros", pois que no corpo desta se inclui a de "pão", connosco, "com", consumido e saboreado (...).
Todos serão chamados (...) e todos serão eleitos. E, como bem me conheço, talvez só a mim me exclua; ou, como seria melhor, talvez até de mim me esqueça."
Senhora, senhoras, senhores da Cultura, de que estamos à espera? Falta cumprir Agostinho da Silva!...
Fale-se a Angola, a Macau, a Cabo Verde, a Moçambique, à Guiné-Bissau, a Goa, a Malaca, a S. Tomé e Principe, a este, àquele, aqueloutro, a TODOS. Nos domínios da Cultura, da Economia - sem paternalismos.
Mas comecemos. Ou recomecemos. Talvez colocando, se ainda não está, uma placa no número 7, da rua do Abarramento de Peniche, em Lisboa, para assinalar esse RECOMEÇO.
Se alguém tiver essa possibilidade, faça chegar, por favor, esta ideia, para já, à (nossa) Senhora Ministra da Cultura, que me parece... Tenho fé.
Respeitemo-nos. Respeite-se a memória de Agostinho da Silva, que tanto dizíamos amar.
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