sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
PRAVDA - 16 de Fevereiro de 1987 ( I ) *
"E. Degtariov, operário duma empresa de tractores (Tchellabinsk)
Não costumo escrever para os jornais. Agora, porém, sinto a necessidade de expor e partilhar as minhas ideias e preocupações mais íntimas. Nas condições da reestruturação agora iniciada não é possível viver como dantes. Embora todos sintamos essa necessidade, não sabemos por onde começar. Como mudar os "hábitos" que já se tornaram tradicionais no mecanismo económico e no espírito das pessoas?
Não devemos esconder nada: os princípios da democracia foram frequentemente violados. Em que é que se tornaram as nossas assembleias de operários e sindicais? Tudo estava preparado de antemão segundo determinado cenário.
As intervenções, em vez de serem pronunciadas na linguagem de cada qual, eram corrigidas por pessoas "competentes". As pessoas iam às reuniões só para marcar presença e levantar o braço. Dizia-se "já está tudo arranjado: quer se vote quer não, corre tudo conforme o planeado"!
Isto conduziu à passividade e inacção. Tudo isto levou ao desaparecimento da critica criadora.
As pessoas que tentavam formular críticas eram frequentemente perseguidas pelos dirigentes.
Confesso que eu próprio preferia, por vezes, fugir às discussões e não entrar em conflitos.
Sabem? A reestruturação agora iniciada veio aliviar as pessoas, tal como alguém que carregava um pesado fardo aos ombros e dele se libertasse.
Nem tudo corre como deve ser, não é possível mudar tudo de um dia para o outro. Sinto isso por mim próprio e pela disposição dos meus camaradas; é agora mais interessante trabalhar e viver. A nossa opinião é agora escutada com maior atenção.
No futuro continuaremos a enfrentar dificuldades, reveses e desilusões. É natural, pois é uma situação completamente nova que desagrada a muitos e portanto não faltam os "os pauzinhos na engrenagem".
Mas nós ultrapassamos todas as dificuldades. Porque - pergunte-se seja a quem for - todos são pela reestruturação."
* Edição biligue publicada em Portugal.
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