segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Vasarely
Este "post" é de homenagem à COERÊNCIA dos que enviam "mails" e se lhes sente na alma o que remetem nesta linguagem nova. Bem-hajam!
Q O P
Um dia destes, um amigo meu venceu, também ele, o frio, e veio sentar-se a meu lado no banco do jardim que conheço melhor, próximo do coreto, como sabem.
E tombada a conversa para o lado da crise, começámos por dizer mal do Governo e despedimo-nos a ratar da "administração" de...de uma rua... Nem sequer da freguesia, mas de uma rua da freguesia...
"A zona ajardinada que tinhamos lá, foi o que se viu: hoje um, amanhã outro, todos foram destruindo bancos, plantas, repuxo, jardim... A certa altura o lixo era tanto que o local se tornou impossível..."
Olá, bom dia!...
"Quando, informalmente, se "votou" para o local, parque infantil ou parque de estacionamento, a maioria, com o passar dos anos e o natural crescimento dos que tinham sido crianças, disse sim a um parque de estacionamento. E fê-lo saber junto das autoridades locais."
Viva! Estão todos bem?...
"Passaram-se, entretanto, anos e lá veio o dito parque de estacionamento. Com ele, aproveitaram, e fizeram o arranjo dos passeios da rua toda..."
Como é que vai isso: está melhor das cruzes?...
"Feitos esses arranjos, alguns "do contra" foram para a televisão e programa que lhes dava jeito e disseram cobras e lagartos da largura e altura dos novos passeios..."
Estes gajos não ligam nenhuma ao coreto...
"E quando tudo estava em "paz"... começou também a ouvir-se dizer mal do bem desenhado espaço de estacionamento, e o novo visual da rua são carros estacionados à beira dos passeios - com o respectivo parque, que tinha sido lixeira, parcialmente desocupado..."
Ora viva! Hoje está menos frio...
"Passam uns dois anos e...e, um dia ...um dia, outra mexida nos passeios - agora na largura... Resultado: faixa de rodagem encolhida... Menor espaço para trânsito automóvel, teórica impossibilidade de estacionar junto ao passeio agora mais largo - e que estreitara a via..."
Estamos para aqui no ratanço, tem que ser... Passe bem!
"Há, então, quem peça às autoridades autárquicas que mande sinalizar a proibição de estacionamento ao lado aos passeios que tinham sido estreitos e... e haviam passado a largos..."
A sua mulher como é que tem passado?...
"Finalmente, a Câmara Municipal, a pedido da Junta de Freguesia, toma posição. E a resposta municipal enviada à Junta é afixada em todas as portas dos prédios da rua apelando ao civismo da população e incentivando o recurso às autoridades policiais para eventuais estacionamentos indevidos..."
Olha quem vem lá... O que é que me diz daquele corte nas ... Que merda! Olhe onde o filho da puta do pássaro me cagou...
"Entretanto, ao que consta, há prédios quase, ou mesmo, sem administrador e a degradação é evidente..."
Porra para isto! Está a ficar frio. Vamos embora. Quem é que joga hoje?... Sabe o que lhe digo? QOP!
QOP?...
Sim, QOP: Que Os Pariu... A todos. A todos, Amigo. Até amanhã!
E tombada a conversa para o lado da crise, começámos por dizer mal do Governo e despedimo-nos a ratar da "administração" de...de uma rua... Nem sequer da freguesia, mas de uma rua da freguesia...
"A zona ajardinada que tinhamos lá, foi o que se viu: hoje um, amanhã outro, todos foram destruindo bancos, plantas, repuxo, jardim... A certa altura o lixo era tanto que o local se tornou impossível..."
Olá, bom dia!...
"Quando, informalmente, se "votou" para o local, parque infantil ou parque de estacionamento, a maioria, com o passar dos anos e o natural crescimento dos que tinham sido crianças, disse sim a um parque de estacionamento. E fê-lo saber junto das autoridades locais."
Viva! Estão todos bem?...
"Passaram-se, entretanto, anos e lá veio o dito parque de estacionamento. Com ele, aproveitaram, e fizeram o arranjo dos passeios da rua toda..."
Como é que vai isso: está melhor das cruzes?...
"Feitos esses arranjos, alguns "do contra" foram para a televisão e programa que lhes dava jeito e disseram cobras e lagartos da largura e altura dos novos passeios..."
Estes gajos não ligam nenhuma ao coreto...
"E quando tudo estava em "paz"... começou também a ouvir-se dizer mal do bem desenhado espaço de estacionamento, e o novo visual da rua são carros estacionados à beira dos passeios - com o respectivo parque, que tinha sido lixeira, parcialmente desocupado..."
Ora viva! Hoje está menos frio...
"Passam uns dois anos e...e, um dia ...um dia, outra mexida nos passeios - agora na largura... Resultado: faixa de rodagem encolhida... Menor espaço para trânsito automóvel, teórica impossibilidade de estacionar junto ao passeio agora mais largo - e que estreitara a via..."
Estamos para aqui no ratanço, tem que ser... Passe bem!
"Há, então, quem peça às autoridades autárquicas que mande sinalizar a proibição de estacionamento ao lado aos passeios que tinham sido estreitos e... e haviam passado a largos..."
A sua mulher como é que tem passado?...
"Finalmente, a Câmara Municipal, a pedido da Junta de Freguesia, toma posição. E a resposta municipal enviada à Junta é afixada em todas as portas dos prédios da rua apelando ao civismo da população e incentivando o recurso às autoridades policiais para eventuais estacionamentos indevidos..."
Olha quem vem lá... O que é que me diz daquele corte nas ... Que merda! Olhe onde o filho da puta do pássaro me cagou...
"Entretanto, ao que consta, há prédios quase, ou mesmo, sem administrador e a degradação é evidente..."
Porra para isto! Está a ficar frio. Vamos embora. Quem é que joga hoje?... Sabe o que lhe digo? QOP!
QOP?...
Sim, QOP: Que Os Pariu... A todos. A todos, Amigo. Até amanhã!
Tapeçarias pintadas
Retrato d'ela
Já aqui está desde Novembro de 2009 o ACERCA DE MIM, obrigatório, mas, até agora, nada consta A PROPÓSITO D'ELA. Aí vai.
. Nome: Emília Augusta LAGARTO Dias Alves
. Nasceu dois anos antes de M.A.
. Alentejana
. Lisboeta pelo casamento
. Europeia, sim!
. Passaporte com vários carimbos, sobretudo, em fronteiras terrestres
. Habilitações: ver ACERCA DE MIM e copiar
. A pintura absorve-a e já expôs várias vezes - cá e lá fora
. Ouve a música de que gosta (que não deve ser triste...)
. Leccionou no Secundário com Badajoz à vista
. Tem um trabalho seu no Museu Municipal de Portalegre, que lhe deu uma medalha de prata.
domingo, 30 de janeiro de 2011
Canteiro de palavras ( III )
in Húmus, de Raúl Brandão
"Últimos conselhos de uma mãe a seu filho. - Filho, fui eu que te criei. Sustentei-te de restos, de pobreza, de humildade. Só pensei em ti: tens, portanto, obrigação de ouvir os últimos conselhos que te dou. Olha que és o meu filho, o filho que criei de dia, de noite, de fome, de obediência e de sonho amargo. Criei-te para que pudesses um dia pertencer à classes elevadas. Por isso sofri, para isso sonhei, para isso desapareço agora que cumpri o meu destino.
"Filho: mente. Às pessoas ricas é preciso mentir sempre e dizer que sim. Deve-se-lhes consideração, deve-se-lhes obediência. Nunca te ligues com os pobres. Para pobres bastamos nós. A pobreza pega-se, não há nada no mundo pior que a pobreza. Tem cuidado com a língua. Pela boca morre o peixe. Nunca digas o que sentes: o que a gente sente é sempre uma inconveniência. Há pessoas que dizem: - Eu gosto que me contradigam. - Foge delas como o Diabo da cruz. O que toda a gente quer é que os outros sejam da sua opinião. Só os ricos têm direito de contradizer os pobres. Um pobre não deve ter opinião. Guarda as conveniências, acima de tudo guarda as conveniências.
"O mundo antigo tinha muito de bom; sabendo-se ser agradável arranjava-se lá um cantinho. A morte é indispensável para as pessoas herdarem, e para nos dias de luto se desanojarem os ricos. Foge do pecado. Sê religioso e temente a Deus. Nunca digas mal de ninguém. E habitua-te filho, habitua-te que é o grande segredo da vida. Habitua-te a cumprir os teus deveres para com a sociedade. O dever acima de tudo, o dever de te subordinares para que não te queiram mal. Não te esqueças também dos pequenos deveres de cortesia. Não te esqueças de que no dia 21 de Julho faz anos o teu padrinho, nem de deixares cartões de visita às pessoas respeitáveis. Há as que fingem que não reparam nessas coisas. São as piores, são as que reparam mais. Respeita. Respeita a lei, os superiores, a Igreja, os ricos.
Num caso grave da vida chega-te ao pé do conselheiro Pimenta e diz-lhe com humildade: - Eu sou da Restituta que era prima de V.Exa. - E mais nada. Não sejas causa de desordem nem de escândalo. Fala baixinho e mente, filho, mentir não custa nada. Nunca digas a verdade que pode vir a saber-se. Deus nos livre da verdade. Mente para seres agradável aos outros e a ti mesmo. E sobretudo, repito-te, diz sempre que sim. Não custa nada dizer que sim, dizer a tudo que sim. Não custa nada dizer que sim, dizer a tudo que sim.
Tua mãe, Restituta da Piedade Sardinha."
"Últimos conselhos de uma mãe a seu filho. - Filho, fui eu que te criei. Sustentei-te de restos, de pobreza, de humildade. Só pensei em ti: tens, portanto, obrigação de ouvir os últimos conselhos que te dou. Olha que és o meu filho, o filho que criei de dia, de noite, de fome, de obediência e de sonho amargo. Criei-te para que pudesses um dia pertencer à classes elevadas. Por isso sofri, para isso sonhei, para isso desapareço agora que cumpri o meu destino.
"Filho: mente. Às pessoas ricas é preciso mentir sempre e dizer que sim. Deve-se-lhes consideração, deve-se-lhes obediência. Nunca te ligues com os pobres. Para pobres bastamos nós. A pobreza pega-se, não há nada no mundo pior que a pobreza. Tem cuidado com a língua. Pela boca morre o peixe. Nunca digas o que sentes: o que a gente sente é sempre uma inconveniência. Há pessoas que dizem: - Eu gosto que me contradigam. - Foge delas como o Diabo da cruz. O que toda a gente quer é que os outros sejam da sua opinião. Só os ricos têm direito de contradizer os pobres. Um pobre não deve ter opinião. Guarda as conveniências, acima de tudo guarda as conveniências.
"O mundo antigo tinha muito de bom; sabendo-se ser agradável arranjava-se lá um cantinho. A morte é indispensável para as pessoas herdarem, e para nos dias de luto se desanojarem os ricos. Foge do pecado. Sê religioso e temente a Deus. Nunca digas mal de ninguém. E habitua-te filho, habitua-te que é o grande segredo da vida. Habitua-te a cumprir os teus deveres para com a sociedade. O dever acima de tudo, o dever de te subordinares para que não te queiram mal. Não te esqueças também dos pequenos deveres de cortesia. Não te esqueças de que no dia 21 de Julho faz anos o teu padrinho, nem de deixares cartões de visita às pessoas respeitáveis. Há as que fingem que não reparam nessas coisas. São as piores, são as que reparam mais. Respeita. Respeita a lei, os superiores, a Igreja, os ricos.
Num caso grave da vida chega-te ao pé do conselheiro Pimenta e diz-lhe com humildade: - Eu sou da Restituta que era prima de V.Exa. - E mais nada. Não sejas causa de desordem nem de escândalo. Fala baixinho e mente, filho, mentir não custa nada. Nunca digas a verdade que pode vir a saber-se. Deus nos livre da verdade. Mente para seres agradável aos outros e a ti mesmo. E sobretudo, repito-te, diz sempre que sim. Não custa nada dizer que sim, dizer a tudo que sim. Não custa nada dizer que sim, dizer a tudo que sim.
Tua mãe, Restituta da Piedade Sardinha."
Grease: "Summer Nights" - Grease on Broadway
Durante uma excitante viagem a Nova Iorque, arrisquei, sozinho, à noite, ir a pé uns dois quilómetros, entre o hotel e a Broadway, para ver o Grease que, recordo-o agora, com a ajuda "desta coisa", era um espectáculo em dois actos que parodiava os anos 50, ao som do rock`n roll. Elenco principal no Majestic Theatre: Barry Bostwick, Demas Carole,Adrienne Barbeau e Meyers Timóteo.
Promessas *
Subsídios para um discurso político:
"Das coisas precisas para meu uso e sustento não usarei sem especial licença, as quais admitirei por esmola, considerando o pouco que as mereço e depondo qualquer direito que a elas pudera ter.
Prometo não admitir nem procurar o de que necessite sem conhecida necessidade.
Antes de jantar farei exame de consciência do que tiver feito desde o princípio do dia.
Tirarei todos os dias uma virtude por sorte, exercitando-a na forma possível, tendo grande amor a todas e desejo de segui-las.
Não perderei as ocasiões que se me oferecerem de exercitar qualquer virtude e trazer particular exercício na humildade, desprezo próprio e paciência, aceitando bem quanto me suceder ao revés do meu natural.
Examinarei todas as obras boas que fizer, no princípio, a intenção e, no fim, o como as fiz.
Resistirei quanto me for possível a todos os escrúpulos impertinentes que eu tenha por tais ou me disserem que o são.
Farei tudo por suspender a ociosidade dos pensamentos inúteis e muito mais nos pecaminosos no modo que puder e, quando me seja dificultoso, prometo não os consentir.
Prometo procurar com a diligência possível seguir em tudo o que me disserem é mais perfeito.
Em sentindo qualquer hombridade ou repugnância, farei por vencê-la e, em caso que seja lícito, continuar aquilo, purificarei a intenção.
Em as coisas de meu uso, admitirei facilmente o mais pobre, indo em tudo contra o meu génio, a fim de mortificá-lo.
Não falarei contra a verdade usando de palavras jocosas nem outras que mostrem ociosidade vã.
Fugirei de práticas impertinentes que me possam arriscar a alguma culpa e quando me não seja possível fugir com a pessoa, o farei com a alma, retirando-me ao interior.
Não murmurarei, nem em matéria leve e, quando o vir fazer, trabalharei pelo evitar ou não o ouvir, retirando-me em dissimulação.
Quando me disserem o de que não goste, não responderei nada sem primeiro sossegar os impulsos da natureza.
Admitirei com humildade as repreensões e avisos que me derem e, quando me achar culpada, me mostrarei mais agradecida.
Não me desculparei, ainda que me criminem, salvo se houver escândalo não dizer a verdade.
Prometo não fazer voto algum nem promessa sem que primeiro consulte a quem me guia.
De todas as minhas obras aplico a parte da satisfação das Almas do purgatório que mais agradarem a Deus, reservando o que me for necessário para alguma necessidade particular.
Do merecimento de minhas obras ofereço a Deus a metade pelo bem espiritual de meus directores por ser dívida de escrava o dar-lhe igual parte do que ganhar.
A outra metade de meus pobres merecimentos para ficar nua nos braços da Divina Providência, ofereço em geral por todos os Prelados e Bispos, especialmente por meu Primo a quem quisera coubesse a maior parte (...).
* Segundo João Palma-Ferreira, "entre 13 de Novembro de 1681 e os finais de 1703, no Convento da Madre de Deus de Xabregas, em Lisboa, uma religiosa, Soror Clara do Santíssimo Sacramento, que no século se chamou Antónia Margarida de Castelo Branco, por alguns nomeada Antónia Margarida de Albuquerque ou apenas Antónia de Albuquerque, escreveu e rescreveu a sua Autobiografia", de que se dá aqui um pequeno apontamento para mortificação dos pecados que por aí, eventualmente, possa haver. Assim seja! Se possivel, já agora, ignorando primos.
"Das coisas precisas para meu uso e sustento não usarei sem especial licença, as quais admitirei por esmola, considerando o pouco que as mereço e depondo qualquer direito que a elas pudera ter.
Prometo não admitir nem procurar o de que necessite sem conhecida necessidade.
Antes de jantar farei exame de consciência do que tiver feito desde o princípio do dia.
Tirarei todos os dias uma virtude por sorte, exercitando-a na forma possível, tendo grande amor a todas e desejo de segui-las.
Não perderei as ocasiões que se me oferecerem de exercitar qualquer virtude e trazer particular exercício na humildade, desprezo próprio e paciência, aceitando bem quanto me suceder ao revés do meu natural.
Examinarei todas as obras boas que fizer, no princípio, a intenção e, no fim, o como as fiz.
Resistirei quanto me for possível a todos os escrúpulos impertinentes que eu tenha por tais ou me disserem que o são.
Farei tudo por suspender a ociosidade dos pensamentos inúteis e muito mais nos pecaminosos no modo que puder e, quando me seja dificultoso, prometo não os consentir.
Prometo procurar com a diligência possível seguir em tudo o que me disserem é mais perfeito.
Em sentindo qualquer hombridade ou repugnância, farei por vencê-la e, em caso que seja lícito, continuar aquilo, purificarei a intenção.
Em as coisas de meu uso, admitirei facilmente o mais pobre, indo em tudo contra o meu génio, a fim de mortificá-lo.
Não falarei contra a verdade usando de palavras jocosas nem outras que mostrem ociosidade vã.
Fugirei de práticas impertinentes que me possam arriscar a alguma culpa e quando me não seja possível fugir com a pessoa, o farei com a alma, retirando-me ao interior.
Não murmurarei, nem em matéria leve e, quando o vir fazer, trabalharei pelo evitar ou não o ouvir, retirando-me em dissimulação.
Quando me disserem o de que não goste, não responderei nada sem primeiro sossegar os impulsos da natureza.
Admitirei com humildade as repreensões e avisos que me derem e, quando me achar culpada, me mostrarei mais agradecida.
Não me desculparei, ainda que me criminem, salvo se houver escândalo não dizer a verdade.
Prometo não fazer voto algum nem promessa sem que primeiro consulte a quem me guia.
De todas as minhas obras aplico a parte da satisfação das Almas do purgatório que mais agradarem a Deus, reservando o que me for necessário para alguma necessidade particular.
Do merecimento de minhas obras ofereço a Deus a metade pelo bem espiritual de meus directores por ser dívida de escrava o dar-lhe igual parte do que ganhar.
A outra metade de meus pobres merecimentos para ficar nua nos braços da Divina Providência, ofereço em geral por todos os Prelados e Bispos, especialmente por meu Primo a quem quisera coubesse a maior parte (...).
* Segundo João Palma-Ferreira, "entre 13 de Novembro de 1681 e os finais de 1703, no Convento da Madre de Deus de Xabregas, em Lisboa, uma religiosa, Soror Clara do Santíssimo Sacramento, que no século se chamou Antónia Margarida de Castelo Branco, por alguns nomeada Antónia Margarida de Albuquerque ou apenas Antónia de Albuquerque, escreveu e rescreveu a sua Autobiografia", de que se dá aqui um pequeno apontamento para mortificação dos pecados que por aí, eventualmente, possa haver. Assim seja! Se possivel, já agora, ignorando primos.
sábado, 29 de janeiro de 2011
Canteiro de palavras ( II )
Há ratoeiras!
Quando vieram, como feiticeiros,
Tirar-te o espírito do corpo,
Obstina-te, irmão!
Não,
Não
E não.
Seja qual for a habilidade
E a humanidade
Da encantação.
Lembra-te dum cortiço!
O que ferve lá dentro e dá favos de mel
É que presta
Mas se querem a festa
Da tua morte
Então,
Que levem tudo no caixão
A alma e o suporte!
Miguel Torga
Quando vieram, como feiticeiros,
Tirar-te o espírito do corpo,
Obstina-te, irmão!
Não,
Não
E não.
Seja qual for a habilidade
E a humanidade
Da encantação.
Lembra-te dum cortiço!
O que ferve lá dentro e dá favos de mel
É que presta
Mas se querem a festa
Da tua morte
Então,
Que levem tudo no caixão
A alma e o suporte!
Miguel Torga
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Egipto - retrato "à la minute" *
Cairo - e não só... Na hora de todas as dificuldades...
. A cidade, vista do avião, tem aspecto de um enorme aglomerado humano com habitações em ruínas. Depois, em terra, observada ao pé, é um enorme espaço urbano de fachadas coloridas, berrantes mesmo, mas em que tudo o resto, de uma maneira geral, está em bruto, com tijolos à vista.
. Há pedintes por todo o lado com particular assédio aos turistas.
. Sempre que se percebe que há sobras de comida para dar, aparecem logo grupos de crianças a estender as mãos...
. À emoção inicial do contacto com a História, segue-se a desolação pela realidade económica e social encontrada.
. Notória a presença de polícias por todo o lado, Segundo uma guia experiente, há muitos à paisana.
. No deserto, uma imagem muito comum é ver camelos esqueléticos e cheios de moscas, ainda que coloridos no "trajar", montados por indivíduos a falar em modernos telemóveis.
. Exemplo concreto de miséria: por força do trânsito, um autocarro com turistas pára e a primeira imagem que se oferece a quem vai do lado de central da faixa de rodagem é uma mulher andrajosa a pedir esmola, ao mesmo tempo que dá um resto de leite a uma criança que revira os olhos - e que, ostensivamente, exibe ...
. Sente-se haver muita pobreza extrema encoberta pelos artificios do turismo, que é olhado como que por um sentimento generalizado de, dir-se-ia, inveja...
. Percebe-se que há muitas mulheres com formação universitária (em particular, em Medicina), impedidas de exercer por razões culturais generalizadas.
. Nota-se como que uma certa cobiça feminina em relação às mulheres estrangeiras.
. Nos homens, a ostentação passa por brincos cheios de brilhantes (?) nas orelhas. Do género, Cristiano Ronaldo, diz quem viu...
. Fica a ideia de que o Mediterrâneo tem uma influência social, cultural e económica muito significativa e claramente visível nas zonas que abrange.
. Fica a ideia geral de que é um povo simpático, em parte, apenas consciente, pelo lado económico, da riqueza cultural que o envolve.
. Os homens dão a entender que preferem mulheres gordas, de preferência, loiras e de olhos azuis...
. Entretanto, os mais novos, observados por uma ocidental, vêem-se, não raro, em grupos e de mãos dadas - sem qualquer sentido transparente que não seja o da solidariedade entre amigos.
* tirado, há dois anos, por uma actual jovem arqueóloga em visita de estudo e turismo ao Cairo, Alexandria e
ao essencial do património histórico egípcio.
. A cidade, vista do avião, tem aspecto de um enorme aglomerado humano com habitações em ruínas. Depois, em terra, observada ao pé, é um enorme espaço urbano de fachadas coloridas, berrantes mesmo, mas em que tudo o resto, de uma maneira geral, está em bruto, com tijolos à vista.
. Há pedintes por todo o lado com particular assédio aos turistas.
. Sempre que se percebe que há sobras de comida para dar, aparecem logo grupos de crianças a estender as mãos...
. À emoção inicial do contacto com a História, segue-se a desolação pela realidade económica e social encontrada.
. Notória a presença de polícias por todo o lado, Segundo uma guia experiente, há muitos à paisana.
. No deserto, uma imagem muito comum é ver camelos esqueléticos e cheios de moscas, ainda que coloridos no "trajar", montados por indivíduos a falar em modernos telemóveis.
. Exemplo concreto de miséria: por força do trânsito, um autocarro com turistas pára e a primeira imagem que se oferece a quem vai do lado de central da faixa de rodagem é uma mulher andrajosa a pedir esmola, ao mesmo tempo que dá um resto de leite a uma criança que revira os olhos - e que, ostensivamente, exibe ...
. Sente-se haver muita pobreza extrema encoberta pelos artificios do turismo, que é olhado como que por um sentimento generalizado de, dir-se-ia, inveja...
. Percebe-se que há muitas mulheres com formação universitária (em particular, em Medicina), impedidas de exercer por razões culturais generalizadas.
. Nota-se como que uma certa cobiça feminina em relação às mulheres estrangeiras.
. Nos homens, a ostentação passa por brincos cheios de brilhantes (?) nas orelhas. Do género, Cristiano Ronaldo, diz quem viu...
. Fica a ideia de que o Mediterrâneo tem uma influência social, cultural e económica muito significativa e claramente visível nas zonas que abrange.
. Fica a ideia geral de que é um povo simpático, em parte, apenas consciente, pelo lado económico, da riqueza cultural que o envolve.
. Os homens dão a entender que preferem mulheres gordas, de preferência, loiras e de olhos azuis...
. Entretanto, os mais novos, observados por uma ocidental, vêem-se, não raro, em grupos e de mãos dadas - sem qualquer sentido transparente que não seja o da solidariedade entre amigos.
Foto Mónica Alves Ponce |
ao essencial do património histórico egípcio.
Ra ci o ci na li zar
Numa altura em que Beirã volta a estar na agenda por força de dificuldades na movimentação ferroviária de passageiros ...
1967
" - Não me diga, sr. revisor, que não podemos ir para Espanha neste combóio (viajava com a minha mulher) ...
- Pois não!... Nesta estação, só metemos mercadorias...
- Só mercadorias?... Então e agora?...
- Hum!... Entrem. Até Espanha, já na próxima estação, vão como bagagem e... e na próxima... na próxima o meu colega espanhol, que já vai aqui connosco, resolve-vos o problema... Vou acertar isso com ele...
- Obrigadinho, sr. revisor!"
1967
" - Não me diga, sr. revisor, que não podemos ir para Espanha neste combóio (viajava com a minha mulher) ...
- Pois não!... Nesta estação, só metemos mercadorias...
- Só mercadorias?... Então e agora?...
- Hum!... Entrem. Até Espanha, já na próxima estação, vão como bagagem e... e na próxima... na próxima o meu colega espanhol, que já vai aqui connosco, resolve-vos o problema... Vou acertar isso com ele...
- Obrigadinho, sr. revisor!"
Proposta para o éter...
Imagino-me, irritado, na bancada destinada ao público na Assembleia da República Portuguesa e, num desrespeito que não me está na alma, com tempo para dizer, sem braço de polícia a afastar-me:
por favor, meus senhores, tenham a coragem de mandar fazer e tornar público um mapa muito simples, em que constem as seguintes colunas:
2011
1ª - Obra pública em curso
2ª - Empresa responsável pela respectiva conclusão e entrega
3ª - Valor inicial da obra adjudicada
4ª - Valor final previsto à data do mapa
5ª - Nome da(s) empresa(s) e do(s) subscritor(es) de ambas as partes
6ª - Sumário das causas de eventuais atrasos
7ª - Valores não pagos em devido tempo pelo Estado às empresas fornecedoras.
IMPORTANTE: o vídeo que aparece no "post" seguinte não tem, obviamente, nada a ver com este assunto...
por favor, meus senhores, tenham a coragem de mandar fazer e tornar público um mapa muito simples, em que constem as seguintes colunas:
2011
1ª - Obra pública em curso
2ª - Empresa responsável pela respectiva conclusão e entrega
3ª - Valor inicial da obra adjudicada
4ª - Valor final previsto à data do mapa
5ª - Nome da(s) empresa(s) e do(s) subscritor(es) de ambas as partes
6ª - Sumário das causas de eventuais atrasos
7ª - Valores não pagos em devido tempo pelo Estado às empresas fornecedoras.
IMPORTANTE: o vídeo que aparece no "post" seguinte não tem, obviamente, nada a ver com este assunto...
Canteiro de palavras ( I )
Para os Visitantes da ruadojardim7
Há um canteiro de palavras
Nesta ruadojardim
Aqui rimo, aqui lavras
Eu por ti, tu por mim
Luandino Vieira in Luuanda:
"(...) É assim como um cajueiro, um pau velho e bom, quando dá sombra e cajús inchados de sumo e os troncos grossos, tortos, recurvados, misturam-se, crescem uns para cima dos outros, nascem-lhes filhotes mais novos, estes fabricam uma teia de aranha em cima dos mais grossos e aí é que as folhas largas e verdes ficam depois colocadas, parecem são moscas mexendo-se, presas, o vento é que faz. E os frutos vermelhos e amarelos, são bocados de sol pendurados.As pessoas passam lá, não lhe ligam, vêem-lhe ali anos e anos, bebem o fresco da sombra, comem o maduro das frutas, os monandengues roubam as folhas a nascer para ferrar suas linhas de pescar e ninguém pensa: como começou esse pau?
Olhem-lhe bem, tirem as folhas todas, o pau vive. Quem sabe, diz o sol dá-lhe comida por ali, mas o pau vive sem folhas. Subam nele, partam-lhe os paus novos, aqueles em vê, bons para paus-de-fisga, cortem-lhe
mesmo todos; a árvore vive sempre com os outros grossos filhos dos troncos mais-velhos agarrados ao pai gordo e espetado na terra.
Fiquem malucos, chamem o tractor ou arranjem as catanas, cortem, serrem, partam, tirem todos os filhos grossos do tronco-pai e depois saiam embora, satisfeitos, o pau de cajú acabou, descobriram o princípio dele. Mas chove a chuva, vem o calor, e um dia de manhã quando vocês passam no caminho do cajueiro, uns verdes pequenos e envergonhados estão a espreitar em todos os lados, em cima do bocado grosso, do tronco-pai. E se nessa hora com a vossa raiva toda não lhe encontrar o princípio, vocês vêm e cortam, rasgam, derrubam, arrancam-lhe pela raiz, tiram todas as raízes sacodem-lhes, destroem, secam, queimam-lhes mesmo e vêem tudo a fugir para o ar feito muitos fumos, preto, cinzento-escuro, cinzento-rola, cinzento-sujo, branco, cor de marfim, não adiantem ficar vaidosos com a mania que partiram o fio da vida, descobriram o princípio do cajueiro.
Sentem perto do fogo da fogueira ou na mesa de tábua de caixote, na frente do candeeiro; deixam cair a cabeça no balcão da quitanda, cheia do peso do vinho ou encham o peito do sal do mar que vem no vento; pensem só uma vez, um momento, um pequeno bocado, no cajueiro, então, em vez de continuar descer o caminho da raiz à procura do princípio, deixem o pensamento correr no fim, no fruto que é outro princípio e vão dar encontro aí com a castanha, ela já rasgou a pele seca e escura e as metades verdes abrem como um feijão e um pequeno pau está a nascer debaixo da terra com beijos da chuva. O fio da vida não foi partido.
Mais ainda: se querem outra vez voltar no fundo da terra pelo caminho da raiz, na vossa cabeça vai aparecer a castanha antiga, mãe escondida desse pau de cajús que derrubaram, mas filha enterrada doutro pau. Nessa hora o trabalho tem de ser o mesmo, derrubar outro cajueiro e outro e outro...
É assim o fio da vida. Mas as pessoas que vivem não podem ainda fugir sempre para trás, derrubando os cajueiros todos e nem correr sempre muito já na frente, fazendo nascer mais paus cajús; é preciso dizer um princípio que se escolhe: costuma-se começar, para ser mais fácil, na raiz dos paus, na raiz das coisas, na raiz dos casos, na raiz das conversas."
Há um canteiro de palavras
Nesta ruadojardim
Aqui rimo, aqui lavras
Eu por ti, tu por mim
Luandino Vieira in Luuanda:
"(...) É assim como um cajueiro, um pau velho e bom, quando dá sombra e cajús inchados de sumo e os troncos grossos, tortos, recurvados, misturam-se, crescem uns para cima dos outros, nascem-lhes filhotes mais novos, estes fabricam uma teia de aranha em cima dos mais grossos e aí é que as folhas largas e verdes ficam depois colocadas, parecem são moscas mexendo-se, presas, o vento é que faz. E os frutos vermelhos e amarelos, são bocados de sol pendurados.As pessoas passam lá, não lhe ligam, vêem-lhe ali anos e anos, bebem o fresco da sombra, comem o maduro das frutas, os monandengues roubam as folhas a nascer para ferrar suas linhas de pescar e ninguém pensa: como começou esse pau?
Olhem-lhe bem, tirem as folhas todas, o pau vive. Quem sabe, diz o sol dá-lhe comida por ali, mas o pau vive sem folhas. Subam nele, partam-lhe os paus novos, aqueles em vê, bons para paus-de-fisga, cortem-lhe
mesmo todos; a árvore vive sempre com os outros grossos filhos dos troncos mais-velhos agarrados ao pai gordo e espetado na terra.
Fiquem malucos, chamem o tractor ou arranjem as catanas, cortem, serrem, partam, tirem todos os filhos grossos do tronco-pai e depois saiam embora, satisfeitos, o pau de cajú acabou, descobriram o princípio dele. Mas chove a chuva, vem o calor, e um dia de manhã quando vocês passam no caminho do cajueiro, uns verdes pequenos e envergonhados estão a espreitar em todos os lados, em cima do bocado grosso, do tronco-pai. E se nessa hora com a vossa raiva toda não lhe encontrar o princípio, vocês vêm e cortam, rasgam, derrubam, arrancam-lhe pela raiz, tiram todas as raízes sacodem-lhes, destroem, secam, queimam-lhes mesmo e vêem tudo a fugir para o ar feito muitos fumos, preto, cinzento-escuro, cinzento-rola, cinzento-sujo, branco, cor de marfim, não adiantem ficar vaidosos com a mania que partiram o fio da vida, descobriram o princípio do cajueiro.
Sentem perto do fogo da fogueira ou na mesa de tábua de caixote, na frente do candeeiro; deixam cair a cabeça no balcão da quitanda, cheia do peso do vinho ou encham o peito do sal do mar que vem no vento; pensem só uma vez, um momento, um pequeno bocado, no cajueiro, então, em vez de continuar descer o caminho da raiz à procura do princípio, deixem o pensamento correr no fim, no fruto que é outro princípio e vão dar encontro aí com a castanha, ela já rasgou a pele seca e escura e as metades verdes abrem como um feijão e um pequeno pau está a nascer debaixo da terra com beijos da chuva. O fio da vida não foi partido.
Mais ainda: se querem outra vez voltar no fundo da terra pelo caminho da raiz, na vossa cabeça vai aparecer a castanha antiga, mãe escondida desse pau de cajús que derrubaram, mas filha enterrada doutro pau. Nessa hora o trabalho tem de ser o mesmo, derrubar outro cajueiro e outro e outro...
É assim o fio da vida. Mas as pessoas que vivem não podem ainda fugir sempre para trás, derrubando os cajueiros todos e nem correr sempre muito já na frente, fazendo nascer mais paus cajús; é preciso dizer um princípio que se escolhe: costuma-se começar, para ser mais fácil, na raiz dos paus, na raiz das coisas, na raiz dos casos, na raiz das conversas."
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
A gravata que não é preta
"Sociedade da Informação" - livro VERDE (1997...)
Em 1997 (MIL NOVECENTOS E NOVENTA E SETE), o Ministério da Ciência e Tecnologia (Missão para a Sociedade da Informação) afirmou em livro próprio, nomeadamente, a importância de uma TELEMANutenção:
"Tirar proveito de uma rede global de trabalhadores, contribuir para a integração profissional de cidadãos mais desfavorecidos (como por exemplo, pessoas com deficiências motoras em diversos graus, ou desempregados de longa duração com competências, nomeadamente quadros técnicos ou especialistas) é uma missão da TELEMUNtenção, um broker (corretor) de teletrabalho português, liderado por jovens empresários, dedicado ao fomento do trabalho à distância e que aposta na descentralização de áreas de alto e médio valor acrescentado do sector terciário da economia como uma forma de aumentar, simultaneamente, a satisfação do trabalhador e a qualidade do trabalho produzido.
(...) O objectivo último passará pela criação, preparação, administração, promoção e reprodução de uma rede deste género com ligações por todo o mundo. A rede já se estende a dez países europeus. Até ao ano 2000 pretende estar também no Brasil, Estados Unidos e China."
Digam-me que se avançou, que as reuniões efectuadas não foram mero exercício para fingir contemporaneidade e dar a ganhar uns patacos a uns entendidos... Digam-me que, nem de propósito, vai começar a funcionar amanhã, "que já está tudo tratado..."
Ou vão pentear macacos!... Os da Missão e os que os nomearam. É que a mim cheira-me que a coisa não foi além de uma MICÇÃO... a exigir análise competente e consequente.
"Tirar proveito de uma rede global de trabalhadores, contribuir para a integração profissional de cidadãos mais desfavorecidos (como por exemplo, pessoas com deficiências motoras em diversos graus, ou desempregados de longa duração com competências, nomeadamente quadros técnicos ou especialistas) é uma missão da TELEMUNtenção, um broker (corretor) de teletrabalho português, liderado por jovens empresários, dedicado ao fomento do trabalho à distância e que aposta na descentralização de áreas de alto e médio valor acrescentado do sector terciário da economia como uma forma de aumentar, simultaneamente, a satisfação do trabalhador e a qualidade do trabalho produzido.
(...) O objectivo último passará pela criação, preparação, administração, promoção e reprodução de uma rede deste género com ligações por todo o mundo. A rede já se estende a dez países europeus. Até ao ano 2000 pretende estar também no Brasil, Estados Unidos e China."
Digam-me que se avançou, que as reuniões efectuadas não foram mero exercício para fingir contemporaneidade e dar a ganhar uns patacos a uns entendidos... Digam-me que, nem de propósito, vai começar a funcionar amanhã, "que já está tudo tratado..."
Ou vão pentear macacos!... Os da Missão e os que os nomearam. É que a mim cheira-me que a coisa não foi além de uma MICÇÃO... a exigir análise competente e consequente.
Chaminés algarvias
Confissões de um espelho em 2ª mão
Outono de 2007 (cai a folha)
"(...) Estou agora numa nova fase: a da minha triunfal entrada (finalmente!...) no universo da INTERNET. E a primeira impressão de septuagenário, que acabo de começar a ser, é de imensidão. De informação e...e de lixo. Do inesgotável e de uma forte necessidade de formação em...em arqueologia - para desenterrar com saber o que interesses económicos e outros, tentam aproveitar, às vezes, em saldo, no Grande Bazar.
É isso: a memória do Grande Bazar de Istambul é a minha emoção de recém-chegado ao mundo da INTERNET. Grande Bazar do apelo à revelação cultural. Grande Bazar do que, desprezível, nos é insinuado - e vendido - como melhor, a preços convidativos...
É o verdadeiro desafio à liberdade de escolha no labirinto da oferta. Do bom e do mau, num quase incrível convite democrático, à escala planetária. É quase uma prova permanente de acesso às capacidades integrais, individuais e colectivas, de viver em paz no meio de uma vastíssima guerra de interesses.
Dirão os dos lugares comuns que a INTERNET é hoje um "pilar" na comunicação humana. Talvez sim... Mas (volto ao Bazar) torna imperiosa a necessidade de dominar o labirinto, de escolher, de saber escolher entre bugigangas o que nos torne melhores cidadãos. Não é assim?... Surgirão as reticências.
A China tem INTERNET?...E aqueles fulanos que não querem que as mulheres...
Quero lá saber: fica o que pensa um dos acabados de chegar, sem grandes conhecimentos da língua falada (turco?...) e com setenta anos a fazer garatujas, ou escrever num papel, e a tentar ler nos rostos e nos livros o que há para conhecer sem sair de casa ou viajar conforme foi possível à luz do Sol ou da Lua (que é melhor do que a do computador, admitamos...).
Para quê tanta conversa, perguntar-se-á? Para nada, eventualmente (ou, actualizo, para, de algum modo, corresponder à simpatia das estatísticas...). Ou, quando muito, para comunicar sem saber com quem, como se faz agora por aí no Bazar da INTERNET, que, apesar de tudo, tirado o (inevitável?) lixo, se admite venha a ter futuro - INTERNETOS... Ou, pensando melhor, já INTERAVÓS, que o "depois de amanhã", a este ritmo, é uma incógnita ..."
"(...) Estou agora numa nova fase: a da minha triunfal entrada (finalmente!...) no universo da INTERNET. E a primeira impressão de septuagenário, que acabo de começar a ser, é de imensidão. De informação e...e de lixo. Do inesgotável e de uma forte necessidade de formação em...em arqueologia - para desenterrar com saber o que interesses económicos e outros, tentam aproveitar, às vezes, em saldo, no Grande Bazar.
É isso: a memória do Grande Bazar de Istambul é a minha emoção de recém-chegado ao mundo da INTERNET. Grande Bazar do apelo à revelação cultural. Grande Bazar do que, desprezível, nos é insinuado - e vendido - como melhor, a preços convidativos...
É o verdadeiro desafio à liberdade de escolha no labirinto da oferta. Do bom e do mau, num quase incrível convite democrático, à escala planetária. É quase uma prova permanente de acesso às capacidades integrais, individuais e colectivas, de viver em paz no meio de uma vastíssima guerra de interesses.
Dirão os dos lugares comuns que a INTERNET é hoje um "pilar" na comunicação humana. Talvez sim... Mas (volto ao Bazar) torna imperiosa a necessidade de dominar o labirinto, de escolher, de saber escolher entre bugigangas o que nos torne melhores cidadãos. Não é assim?... Surgirão as reticências.
A China tem INTERNET?...E aqueles fulanos que não querem que as mulheres...
Quero lá saber: fica o que pensa um dos acabados de chegar, sem grandes conhecimentos da língua falada (turco?...) e com setenta anos a fazer garatujas, ou escrever num papel, e a tentar ler nos rostos e nos livros o que há para conhecer sem sair de casa ou viajar conforme foi possível à luz do Sol ou da Lua (que é melhor do que a do computador, admitamos...).
Para quê tanta conversa, perguntar-se-á? Para nada, eventualmente (ou, actualizo, para, de algum modo, corresponder à simpatia das estatísticas...). Ou, quando muito, para comunicar sem saber com quem, como se faz agora por aí no Bazar da INTERNET, que, apesar de tudo, tirado o (inevitável?) lixo, se admite venha a ter futuro - INTERNETOS... Ou, pensando melhor, já INTERAVÓS, que o "depois de amanhã", a este ritmo, é uma incógnita ..."
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Luandino Vieira
Grande Prémio (1965) da Novelistica, da Sociedade Portuguesa de Escritores - Lisboa, LUUANDA, de Luandino Vieira, está nas nossas estantes (agora sem pidescas perseguições) desde a segunda metade dos anos 60, do século passado (em edição brasileira, sabe-se porquê...).
Revejo-o agora sem ter que "andar fugido" - mas, confesso, estou triste (éramos assim?...) .
"- Já sei, já sei. Não digas mais! Vens pelo anúncio, não é? Anda para aqui. Xico, oh Xico! Traz o bloco!
O rapaz da farda veio nas corridas trazendo um bloco de papel e um lápis e ficou na frente de Zeca Santos, um pouco com cara de gozo, à espera. O homem magro observou bem Zeca Santos nos olhos e desatou a fazer perguntas depressa, parecia queria-lhe mesmo atrapalhar: onde andou, o que é que fazia, quanto ganhava, se estava casado, qual era a família, se tinha documentos, se tinha instrução primária, se era assimilado, se tinha ainda carta de bom comportamento dos outros patrões e muitas coisas mais, Zeca Santos nem conseguia tempo para responder completo, nem nada. E no fim já, enquanto Zeca tremia de frio com aquele ar do escritório e o vazio da barriga a morder-lhe, pondo a voz de todos a fugir, longe, cada vez mais longe, o homem veio na frente dele para perguntar, arreganhador, olhando-lhe na camisa, nas calças estreitas, com olhos maus, desconfiados:
- Ouve lá, pá, onde nasceste?
- Nasceu onde? - repetiu-lhe o contínuo.
- Catete, senhor!
Nessa resposta o homem assobiou, parecia satisfeito, e bateu na mesa ... enquanto tirava os óculos, mostrando os olhos pequenos, cansados.
- De Catete, enh! Icolo e Bengo?... Calcinhas e ladrões e mangonheiros! E ainda por cima, terroristas!
Põe-te lá fora, filho dum cão! Rua, filha da mãe, não quero cá catetes!
Zeca Santos nem percebeu mesmo como saiu tão depressa sem dar encontro na porta de vidro, a cara do homem metia medo, parecia tinha ficado maluco, bêbado, todo encarnado a mostrar-lhe com o dedo, ameaçando-lhe, pondo-lhe insultos e todas as pessoas que estavam passar olhavam o rapaz baralhado, banzado, quieto, a levar encontrões e pisadelas, um miúdo pôs-lhe mesmo uma chapada no pescoço e o homem, na porta, continuava com as palavras dele:
- Icolo e Bengo, enh! Filho da puta, se aqui apareces mais, racho-te os chifres!
Mas de repente, vendo todos nos passeios começarem a parar, perguntar saber os casos, Zeca Santos sentiu um medo a avivar-lhe no coração, um aviso parecia tinha dormido e acordava no meio do perigo, no escuro, ao ver a ameaça e, com fome a pôr-lhe riscos encarnados na frente dos olhos, desatou nas corridas pela rua da Alfândega, para arquivar na confusão de pessoas, na Mutamba."
Revejo-o agora sem ter que "andar fugido" - mas, confesso, estou triste (éramos assim?...) .
"- Já sei, já sei. Não digas mais! Vens pelo anúncio, não é? Anda para aqui. Xico, oh Xico! Traz o bloco!
O rapaz da farda veio nas corridas trazendo um bloco de papel e um lápis e ficou na frente de Zeca Santos, um pouco com cara de gozo, à espera. O homem magro observou bem Zeca Santos nos olhos e desatou a fazer perguntas depressa, parecia queria-lhe mesmo atrapalhar: onde andou, o que é que fazia, quanto ganhava, se estava casado, qual era a família, se tinha documentos, se tinha instrução primária, se era assimilado, se tinha ainda carta de bom comportamento dos outros patrões e muitas coisas mais, Zeca Santos nem conseguia tempo para responder completo, nem nada. E no fim já, enquanto Zeca tremia de frio com aquele ar do escritório e o vazio da barriga a morder-lhe, pondo a voz de todos a fugir, longe, cada vez mais longe, o homem veio na frente dele para perguntar, arreganhador, olhando-lhe na camisa, nas calças estreitas, com olhos maus, desconfiados:
- Ouve lá, pá, onde nasceste?
- Nasceu onde? - repetiu-lhe o contínuo.
- Catete, senhor!
Nessa resposta o homem assobiou, parecia satisfeito, e bateu na mesa ... enquanto tirava os óculos, mostrando os olhos pequenos, cansados.
- De Catete, enh! Icolo e Bengo?... Calcinhas e ladrões e mangonheiros! E ainda por cima, terroristas!
Põe-te lá fora, filho dum cão! Rua, filha da mãe, não quero cá catetes!
Zeca Santos nem percebeu mesmo como saiu tão depressa sem dar encontro na porta de vidro, a cara do homem metia medo, parecia tinha ficado maluco, bêbado, todo encarnado a mostrar-lhe com o dedo, ameaçando-lhe, pondo-lhe insultos e todas as pessoas que estavam passar olhavam o rapaz baralhado, banzado, quieto, a levar encontrões e pisadelas, um miúdo pôs-lhe mesmo uma chapada no pescoço e o homem, na porta, continuava com as palavras dele:
- Icolo e Bengo, enh! Filho da puta, se aqui apareces mais, racho-te os chifres!
Mas de repente, vendo todos nos passeios começarem a parar, perguntar saber os casos, Zeca Santos sentiu um medo a avivar-lhe no coração, um aviso parecia tinha dormido e acordava no meio do perigo, no escuro, ao ver a ameaça e, com fome a pôr-lhe riscos encarnados na frente dos olhos, desatou nas corridas pela rua da Alfândega, para arquivar na confusão de pessoas, na Mutamba."