Foi o Fonseca Bastos, na altura, redactor do "Jornal Novo", que, dias depois de, em serviço, termos chegado a Toronto, me disse que, um português, dono de uma estação de rádio naquela cidade canadiana, nos tinha convidado, a ambos, para uma entrevista em directo na sua emissora.
Aceite o convite, na data entretanto aprazada, lá fomos. As instalações, recordo-me, eram modestas: uma sala de entrada, escassa de área, mas com três ou quatro telefones, e uma cabina com os aparelhómetros obrigatórios e pouco mais. Papéis, discos e bobinas de fita magnética, sim, havia-os por todos os cantos.
Feitas as apresentações, logo ali, entre a escada e a sala de entrada (mais propriamente, a "redacção" da emissora), tocou um dos telefones e, lesto, o nosso anfitrião foi atender: "sim, Serviço Nacional da... (citou o nome da estação)". Falou, disse o que tinha a dizer ao "seu prezado ouvinte" e, preparávamo-nos para retomar o diálogo há minutos iniciado, quando a campaínha de outro dos telefones da "redacção" reclama, de novo, o dono da emissora, também editor, jornalista e locutor, que, gentilmente, nos convidara: "...sim, Serviço Internacional da... (voltou a referir, com ênfase, o nome da estação)". Olhei para o Fonseca Bastos, sem dizer nada, o Fonseca Bastos olhou para mim, sem igualmente nada dizer, sorrimos e...
- Desculpem, tenho que atender aqui este outro telefone ... - disse-nos o dono da emissora, editor, jornalista e locutor, nosso amável anfitrião, enquanto feliz e apressado, deitava a mão ao telefone que retinia: "sim, Serviço de Desporto da... (e citou, sem fadiga, o nome da sua emissora), "ganhou o Benfica por dois a zero", esclareceu o seu ouvinte, por certo ávido de notícias do futebol da terra distante.
´
"É sempre assim!...", adiantou, voltando-se para nós, orgulho mal contido, logo que desligou a terceira chamada, no terceiro dos telefones instalados na "redacção".
"- Excelente!...", comentámos, nós, os recém-chegados, em uníssono, mas com uma dúvida comum na expressão revelada e, de imediato, entendida.
"Sou só eu nesta emissora. Tenho é quatro telefones: um "geral" (que, note-se, não ouvimos tocar) e mais três para outras secções - de que, na maior parte dos dias, me encarrego sem auxílio de ninguém. É preciso manter uma certa imagem exterior...", explicou.
Soltámos, enquanto convidados, uma gargalhada pouco correcta, e, em português, nas "amplas instalações" daquela voz de Portugal "aconteceu" uma "importante" entrevista com dois enviados do "Jornal Novo", de Lisboa, a terras canadianas, para os milhares de senhores ouvintes da...".
Sem comentários:
Enviar um comentário