domingo, 2 de janeiro de 2011

Nau S. Vicente

Retomo o quixotismo deste espaço, onde, às vezes,  dá a sensação de que "são mais as vozes do que as nozes", tal é imensidão do oceano em que se navega e tão, quase sempre humilde, a palavra de quem se dispõe a, sentado, ou não, num qualquer banco de jardim, vir para aqui arengar... Por muitos milhares que possam ser os seus visitantes. E eu (obrigadinho!...) não me queixo. Mas...

Mas a coisa é esta: as ideias ficam, registam-se. O seu possível aproveitamento, esse, é da responsabilidade moral, pelo menos, também, de quem as lê e que, reconhecendo-lhes eventual mérito... fica à espera de que O(S) OUTRO(S) a concretize(m) - se for essa a necessidade de alguém, de uma localidade, de um país, do mundo... Depois há essa merda da política (a grande porca...) que, ao colorir, bastas vezes, estraga... Mas...

Mas, como diria Agostinho da Silva, "vamos ao prático". Retomo uma breve crónica que publiquei em...em Abril de 1987 (!!!). Rezava assim - no essencial:

"ENQUANTO ALGUNS SONHAM COM JANTARES E REUNIÕES "DO MAIS ALTO SIGNIFICADO", PERMITA-SE-ME QUE, HUMILDEMENTE, RECUE TRINTA ANOS E, NESTE INÍCIO DAS COMEMORAÇÕES DOS DESCOBRIMENTOS, COM BASE NO "DIÁRIO DE NOTÍCIAS", DE 10 DE JULHO DE 1957, RETOME UMA VELHA IDEIA DE LEITÃO DE BARROS, QUE, TENDO SIDO NESSA ALTURA FORMALMENTE APRESENTADA NOS SALÕES DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE LISBOA, POUCO PASSOU DE UM BONITO PROJECTO. REFIRO-ME Á ENTÃO FALADA NAU S. VICENTE, QUE SERIA "A MAIOR NAVE SAÍDA DOS ESTALEIROS NACIONAIS PARA NAVIOS DE MADEIRA (60 METROS DE COMPRIMENTO POR 14 A MEIA NAU), COM CALADO DE SEIS METROS E CASTELO DE POPA 18 ACIMA DA LINHA DE ÁGUA", E QUE VISAVA  SINTETIZAR, EM VIAGEM POR ESSE MUNDO FORA, "A TERRA, O MAR, A INDÚSTRIA, O COMÉRCIO, A ARTE, A HISTÓRIA E A TRADIÇÃO DOS PORTUGUESES".

LEITÃO DE BARROS, EM DISCURSO A PROPÓSITO (9.7.1957): "ESTA IDEIA DA NAU S. VICENTE LEVA-ME JÁ CINCO ANOS DE TRABALHOS CONTÍNUOS. MUITAS DIFICULDADES TEMOS ENCONTRADO PARA A SUA REALIZAÇÃO. E TAMBÉM ALGUMAS FACILIDADES. TUDO DEPENDE DE SE COMPREENDER OU NÃO A FINALIDADE DESTA INICIATIVA. QUALQUER DOS COMPONENTES DO GRUPO QUE METEU MÃOS Á OBRA NÃO NECESSITAVA, PARA GANHAR DINHEIRO, DE EMBARCAR NESTA NAU. MOVE-NOS APENAS O INTERESSE DE FAZER UMA OBRA ORIGINAL QUE MAIS TARDE SE RECONHECERÁ SER BELA, ÚTIL E MAIS OPORTUNA DO QUE MUITOS PODEM SUPOR.

A NAU S. VICENTE NÃO É UM BARCO FEITO APENAS PARA LEVAR AO MUNDO INTEIRO PRODUTOS PORTUGUESES, MESMO DOS MELHORES. É UM INSTRUMENTO DE DIVULGAÇÃO DA CULTURA PORTUGUESA, COM O QUAL PODEMOS EXECUTAR UM VASTO PROGRAMA DE FOMENTO NA SUA MAIS ALTA EXPRESSÃO SOCIAL E ECONÓMICA.

(...) FAREMOS EXPANSÃO E FOMENTO PORTUGUESES, MAS COM UMA CONCEPÇÃO NOVA. INTEGRAREMOS OS VALORES ECONÓMICOS NUM TODO DE ACÇÃO NACIONAL (...) COM A MOLDURA RICA E EVOCATIVA QUE, POR SI SÓ, DOMINA E CRIA O AMBIENTE DE QUE PRECISAMOS PARA FAZER ACEITAR NÃO SÓ OS PRODUTOS DE EXPORTAÇÃO, O QUE NÃO SERIA POUCO, MAS IDEIAS, OBRAS, CONCEITOS E CULTURA LUSITANA, O QUE, ISSO SIM, CONSTITUI, AGORA E SEMPRE, UMA NECESSIDADE E UMA DEFESA NACIONAIS (...)."

RETOMA-SE (...) O SONHO DE LEITÃO DE BARROS, NA ESPERANÇA DE QUE UM DOUTOR DA CULTURA VOLTE A EXPLICAR A UM DOUTOR DOS DINHEIROS O QUE PODE VALER, PARA ALÉM DE UMA SALVA DE PALMAS, UMA "S. VICENTE" COM "60 METROS DE COMPRIMENTO POR 14 E MEIA DE NAU - REPLETA DE HISTÓRIA  -  E CANELA."

Somos uns merdas: ficámo-nos, estamos no mercado do Bolhão e, assim, assim, no da Ribeira. Abrimos uns museus e temos, oficialmente, uns fulanos a pensar nas exportações. De tudo: da canela, das artes, mas, sobretudo, de nacionais miniaturas. O MAR, esse, assusta-nos... É muito grande para a nossa estatura actual. Ou, se não é, parece.

O quê? Construir uma Nau e andar por aí a "mostrar Portugal"? Era o que faltava... E as ondas? As ondas que a nau faria?... A agitação... Deus nos livre!... Além do mais, isso foi uma ideia "do antigamente"... E agora temos a Internet. Navegamos sentados...- dir-se-á, depois de uma eventual leitura deste "post": "essa é uma ideia do passado... Aumentamos os impostos, que é mais fácil..."


PS: e se aparecesse por aí um patrociniozinho de um qualquer grupo económico internacional? Nem assim?... Não? Prontos...

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