quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os homens vistos por Graça Lobo

Carta aberta a Graça Lobo

"Graça Lobo, por quem é: às voltas com os meus papéis, quase seu irmão na idade, achei tão giro o apontamento que se segue que, sem mais aquelas, tomei a liberdade de o reviver na minha rua (se me vier a dizer que não, prometo apagá-lo de imediato, mas não acredito que o faça...). Aí vai, com o todo o meu respeito e admiração pelo exercício natural que faz da liberdade:

OS HOMENS VISTOS POR GRAÇA LOBO

"Os homens dividem-se em quatro categorias: aqueles que a gente gosta, aqueles que a gente não gosta, aqueles que a gente há-de vir a gostar e os inenarráveis.

A gente gosta dos maridos, dos filhos, dos amantes, dos namorados, dos amigos e dos admiradores.

A gente não gosta dos chatos, dos gordos, dos taxistas e dos dentistas.

A gente poderá vir a gostar dos maridos das outras -, o que é uma fatalidade - e, por vezes, dos solteiros. Estes são raros. Ele há cem cães a um osso. Os inenarráveis são os outros todos. Os que não têm, coitados, nenhuma hipótese de alguma mulher minimamente normal vir a gostar deles. Estes são a grande maioria.

Reflectamos sobre os maridos. São normalmente os nossos. São egoístas, perversos, infiéis, ciumentos e avaros. Comem melhor posta da pescada e acham estranhíssimo quando a gente diz que a dita deveria ser para a criança. Saem connosco e olham para as outras todas, mesmo que sejam feíssimas, desmazeladíssimas e malcriadas. Fazem barulhos obnóceos na casa de banho, tais como gargarejar, praguejar e assoar-se. Tiram-nos o cobertor de cima e quando estamos em angústias existenciais mandam-nos ao psiquiatra. Não gostam da areia da praia e preferem ficar a beber gin-tonics no bar com os amigos. São perfeitamente insuportáveis.

Os amantes. Estes fiam mais fino. Dão-nos rosas ao pequeno almoço.
Juram que somos as mais lindas, as mais inteligentes, a única mulher com quem dormiram, para além da mulher deles, evidentemente.
Fazem-nos sentir uns seres maravilhosos e atractivos, sensuais e raros. Quando a gente os encontra com outra juram pela alma da mãe que é uma prima em primeiro grau. E a gente acredita. Sem eles a vida duma mulher que se preze seria absolutamente uma neura.

Os namorados. Esses são os que ainda não têm a categoria de amantes e vivem no desespero, na dúvida, na inquietação. Será hoje? Será amanhã? Daqui a um mês? São tímidos por excelência, novos magros, de preferência louros e soignés. Levam-nos ao cabeleireiro.
Telefonam-nos vinte vezes por dia. Não ousam declarar-se. Coram como as crianças quando nós lhes fazemos uma avancesita. Estão disponíveis para todos os nossos caprichos, as nossas vontades, os nossos desejos. São uma delícia. Não podemos passar sem eles.

Os amigos.Esses são sempre mais inteligentes, os que têm mais graça, os que aturam as nossas más disposições e nos mandam flores nas estreias. São lindos., divertidos, bem educados, transigentes e tomam um whisky connosco antes de jantar. Levam-nos aos sítios "in" e sentem orgulho em nós. Entre estes contam-se muitos homossexuais o que é um sossego. São perfeitamente insubstituíveis e queridos.

Os admiradores são aqueles que não conhecemos ou conhecemos pouco e nos olham com olhares gulosos e de desejo profundo. Seguem-nos por todo o lado. Sabem os restaurantes onde vamos, os bares, as boites, os Alcântara Mares. Sondam os nossos amigos. Odeiam os nossos maridos. Querem trucidar os nossos amantes, atiram da ponte os nossos namorados. Escrevem-nos cartas para o Teatro com assinaturas ilegíveis. Mandam-nos flores para o camarim. Querem ser primeiro nosso namorados, depois nossos amantes e sonham ser nossos maridos. E aí a tragédia começa. No fundo, no fundo, os homens são todos amorosos. O que é que seria deles sem nós? Como é que eles sobreviveriam? Digam-me lá."


Pois é, Graça Lobo! E aqui estou eu sem saber o que sou - para além do chato/admirador enamorado deste seu excelente naco de prosa.



6 comentários:

  1. Foi o senhor que retirou este artigo com os seus comentários da minha página?

    Graça Lobo

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  2. Por favor diga-me se foi o senhor que apagou este texto da minha página. Não pode repô-lo?

    Graça Lobo

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  3. Não, não D. Graça Lobo. Não tenho o prazer de conhecer a sua página na NET, se é à NET que se quer referir. Contudo, se fosse aí que a tivesse lido, não a repetiria, garanto-lhe.Poderia citá-la, mas apenas isso. O que aconteceu foi que achei o texto giro e
    INJUSTAMENTE "perdido" numa REVISTA (página inteira), recordo-me, que revi por acaso, e de que me desfiz depois da transcrição em causa, com a finalidade que conhece e que mereceu a sua oportuna e simpática reacção.Os melhores cumprimentos.

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  4. Graça Lobo, de repente, a minha mulher descobriu a revista em causa: é a MÁXIMA de Janeiro de 1990, página 58. Fico feliz! E, uma vez mais, grato.

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