sexta-feira, 11 de março de 2011

Ramalho Ortigão - hoje

in "As Farpas"

"Passemos à política.

Neste campo não há ideia propriamente nacional - é evidente.

Perdendo a pouco e pouco a sua tradição histórica, Portugal, politicamente, não tem hoje papel na civilização. Está politicamente  desempregado. Figura no congresso das nações europeias como um país sem modo de vida. Perante o progresso não tem profissão.

(...) Os diferentes partidos que há muitos anos se sucedem no exercício do Poder têm por chefes dois ou três individuos cujas personalidades (...) representam as duas ou três fases por que sucessivamente vai passando e repassando em círculo sobre o mesmo carreiro a rotação governativa.

Os personagens aludidos têm as intenções mais puras e mais honestas deste mundo. Ter outras, desonestas e impuras, dar-lhes-ia maçada, e para aí é que eles não vão.

(...) Em Portugal a incapacidade governativa produziu, primeiro que tudo, este resultado funesto: fez perder ao País a noção histórica do seu destino; cortou o fio da tradição nacional, lançando o espírito público numa existência de acaso como das tribos boémias.

(...) Pela parte que lhe respeita o País espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se colecte, porque está colectando tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.

(...) Na política há carta branca para tudo: para mentir, para intrigar, para caluniar, para trair, para furtar."

Actualização em 11 de Março de 2011:
 "Portugal todos os dias pede dinheiro emprestado ao estrangeiro"

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