terça-feira, 26 de abril de 2011

Fado no Interior - da Beira e de si próprio

Segundo Eça:

"Atenas produziu a escultura, Roma fez o Direito, Paris inventou a revolução, a Alemanha achou o misticismo. Lisboa que criou? O Fado.

Fatum era um deus do Olimpo; nestes bairros é uma comédia. Tem uma orquestra de guitarras, e uma iluminação de cigarros. Está mobilada com uma enxerga. A cena final é no hospital e na enxovia. O fundo é uma mortalha!"


De repente, o fado. Na Cova da Beira (Traseiras do Litoral), pois então. Na fronteira entre concelhos - o da Covilhã e o do Fundão, no Dominguizo, que, clubisticamente, tem um Águias, nascido de um seu natural (o Zé dos Reis), que medrou na Lisboa das caravelas, que foram e deixaram Fado.

Agora e sempre bem acolhido. Tão bem acolhido que, ouvido no meio de serras, é quase como se estivesse a ser lamento, grito, saudade do mundo à beira-Tejo plantado, que é, no caso, como quem diz, à beira-Zézere, de que é confrade.


Cantou-se. E quando se pensava que ainda eram 10, 11 da noite, eram três da madrugada. Responsabilizou-se, então, o Fado, que sorriu e prometeu mais - em ocasião a combinar. De preferência, em ambiente de menor excitação. Se possível, como quem, na igreja, ouve uma prédica.

Para já, as vozes foram as da Daniela Runa, Maryline Guerra, Annabelle Guerra, Nelson Araújo e ... e João Carvalho, que, com José Manuel Brito, também dedilhou a guitarra. Rúben Nunes, esse, "botou" têmpero musical num "cajon", que não zangou o fado, creio.

Regista-se um agradável serão, lá, onde a canção nacional justificou, uma vez mais, a sua natural presença - e se "deu de beber à dor...", pois claro. Em "mesas "de quatro" e "de seis" (?) de srs. óvintes, tal qual o determinado pela organização que se esmerou o que pôde para que um ou outro "grão na asa" não transcendesse a "enxovia lisboeta", de que falou Eça de Queirós.

O fado chegou à aldeia
E pôs o povo a cantar
Com artistas na ideia,
Zé Maravilha a mandar

Em mesa sobrelotadas
Com sete e oito beirões,
Morcelas bem assadas
E tinto nos garrafões

Só o silêncio faltou
P'ra maravilha ser toda
Mas mesmo assim encantou
E o resto que ... que se lixe ...

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