O murmúrio das orações abafado pelo respeito colectivo dos silêncios, à luz das velas alinhadas nas duas filas laterais em marcha lenta por algumas das principais ruas da aldeia.
A cerimónia da Paixão. O povo na rua. O povo todo - ou quase (num bar, há quem espreite: três ou quatro ignoram ou fingem ignorar).
À frente, o padre convidado diz alto o que está escrito no Catecismo e, como numa onda, as palavras já sabidas repercutem-se até ao último dos do cortejo, o sacerdote titular, que replica e mantem a cadência.
Uma hora nisto, talvez. Ou talvez um pouco menos.
Fim de dia na católica, ou laica, comunhão, Deus sabe a que secretos pretextos para além dos, desde sempre, anunciados e escritos, nos Livros. Lá onde a Fé 364 dias acanhada, aproveita o serão da Quinta-Feira Santa como que para "saldar contas"...
A paz regressa às consciências. Com emoção nos olhares. E direito a sermão final, a que nem metade assiste.
Em breve nascerá a Sexta-Feira do Silêncio. Para se lhe seguir a Páscoa até que venha o Natal, para que se finja a Paz, que o Novo Ano anuncia formalmente - sempre. Prevendo-se, desde já, nova procissão das velas e, portanto, renovada oportunidade para lavar consciências. Que pecarão no tempo seguinte e ...
Apesar de tudo, que ASSIM SEJA! |
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