Alvin Toffler in Os Novos Poderes
Leiam este capítulo ("A formação de uma pobreza pelintra") até ao fim ... Aborda o tema do poder no limiar do século XXI.
"Um novo sistema revolucionário de criação de riqueza não pode propagar-se sem desencadear conflitos pessoais, políticos e internacionais. Mude-se a maneira como se produz riqueza e colide-se imediatamente com todos os interesses estabelecidos cujo poder decorre do sistema de riqueza anterior.Irrompem conflitos ferozes, com ambos os lados a lutarem pelo controlo do futuro.
É esse conflito, que hoje alastra pelo mundo, que ajuda a explicar o presente abalo do poder. Por isso, a fim de prever o que nos pode aguardar, é proveitoso lançar um breve olhar para trás, para o último conflito da mesma natureza.
Há trezentos anos, a revolução industrial também deu origem a um novo sistema de criação de riqueza. Chaminés altas alanceavam o céu onde antes tinham sido amanhados campos. Proliferavam as fábricas - "negras fábricas satânicas" que trouxeram consigo um modo de vida totalmente novo - e um novo sistema de poder.
Camponeses libertos de quase-servidão na terra transformaram-se em trabalhadores urbanos subordinados a patrões públicos ou privados. Com esta mudança surgiram igualmente mudanças nas relações de poder no lar. Famílias agrárias vivendo há várias gerações debaixo do mesmo tecto sob a autoridade de um patriarca barbudo, deram lugar a famílias nucleares reduzidas, das quais os idosos não tardaram a ser expulsos ou então viram diminuidos o seu prestígio e influência. A própria família, como instituição, perdeu muito do seu poder social com a transferência de muitas das suas funções para outras instituições - a educação para a escola, por exemplo.
Mais cedo ou mais tarde, também, onde quer que as máquinas a vapor e as chaminés das fábricas se multiplicavam, seguiam-se grandes mudanças políticas. Monarquias ruíram ou foram reduzidas a atracções turísticas. Surgiram novas formas políticas.
Se eram inteligentes e possuíam a presciência suficiente, os proprietários rurais, outrora dominantes nas suas regiões, mudavam-se para as cidades a fim de cavalgarem a onda da expansão industrial, e os seus filhos tornavam-se corretores ou capitães de indústria. Muita da aristocracia fundiária que se agarrou ao seu modo de vida rural acabou por se ver reduzida a uma nobreza pelintra, com as suas mansões transformadas em museus ou em parques de leões geradores de dinheiro.
Contra o seu poder que desaparecia surgiram, no entanto, novas elites: donos de empresas, burocratas, magnatas dos media. A produção em massa, a distribuição em massa, a educação em massa e a comunicação em massa foram acompanhadas por democracias das massas, ou por ditaduras que se proclamavam democráticas.
A essas mudanças internas corresponderam gigantescas deslocações do poder global, à medida que as nações industrializadas colonizavam, conquistavam ou dominavam uma grande parte do resto do mundo, criando uma hierarquia de poder mundial que ainda subsiste nalgumas regiões.
Em resumo, o aparecimento de um novo sistema de criação de riqueza minou todos os pilares do antigo sistema de poder, acabando por transformar a vida familiar, os negócios, a política, o Estado-nação e a própria estrutura do poder global.
Os que lutavam para controlar o futuro utilizaram a violência, a riqueza e o conhecimento. Hoje começou uma convulsão similar, mas muito mais acelerada. As mudanças a que assistimos recentemente nos negócios, na economia, na política e ao nível global são apenas as primeiras escaramuças das muito maiores lutas pelo poder que virão. Pois encontramo-nos no limiar da mais profunda deslocação de poder da história humana." *
* o sublinhado é da responsabilidade de M.A.
A citação visa apenas ... fazer de retrovisor - eventualmente, embaciado...
Sem comentários:
Enviar um comentário