Não resisto. Encontrei este pedaço de uma prova de tipografia do tempo em que trabalhei no "Diário de Notícias". Teria na ocasião, pelas minhas contas, uns 17/18 anos de idade e lembro-me como se fosse hoje de ter rapado de uma folha A4 e respondido a este anúncio como segue:
"Minha Senhora
Nesta vida árida, vazia, triste e penosa que é o meu dia-a-dia, encheu-me de uma alegria imensa a leitura do anúncio publicado hoje por V.Exa.
Ter 40 anos!... Oh, sonho dos sonhos! V.Exa. é a mais feliz das mulheres! Linda idade a Vossa, minha Senhora! Com 40 Primaveras não há segredos na vida, tudo é belo, risonho, tudo é já fruto da experiência - vive-se!
Além disso, V. Exa. tem saúde, tem esse bem inestimável da saúde, deve ter ainda energia, vigor, boa presença.
Como me sinto fraco comparado com V.Exa.. Só tenho peles, peles e osso. Dinheiro, só dinheiro e um jazigo - eis o que possuo. Mas o carinho, o conforto, a ternura, o afago permanente de alguém como V. Exa. é o que me falta e é tudo quanto mais desejo.
Deixe-me ir até junto de si, deixe-me ir amá-la, aceite o amor de um velho, de um pobre velho para quem a vida tem sido despida de felicidade, de amor, de autêntica, de verdadeira paz de espírito.
Seriamos felizes, faríamos tudo, mas tudo, o que quisesse e aproveitariamos à maravilha a nossa experiência e o seu fulgor, a agitação do seu sangue jovem.
Ter 40 anos e sem ninguém! Oh, como eu seria feliz!
É viúva há muito tempo, não é, minha Senhora? Oh, minha Vénus adormecida ... Que delícias, que sabor! Deveis "estar de apetite" - como diria o Eça, o nosso Eça.
Fico de joelhos ante vós!
Adeus, minha Vida!...
Com todo o respeito,
José de Canto e Castro e Patrício."
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