Poder local, escrito assim, sem mais conversa, cheira a revolução, cheira a "juntamo-nos, armamo-nos e vamos todos a Lisboa dizer àqueles tipos tal e tal e tal ..."
Não é isso que eu quero sublinhar com o pouco que aí vai. O que pretendo dizer é tranquilo, embora, eventualmente, controverso: o 25 de Abril-benefício está, até agora, a meu ver, sobretudo, no que as freguesias e os municípios conseguiram fazer da chamada Revolução dos Cravos. Porque a outra de que alguns falam e escrevem bastas vezes, não passou de uma Revolução de Cravas ...
Numa palavra: quem quiser ver o Portugal novo tem se dar ao trabalho de percorrer o país e, cuidadosa e despartidariamente, perguntar o que havia antes e o que passou a haver depois de ... E, já agora, indagar de quem foi a iniciativa.
Mas não quero alongar o discurso: em hora de restrições, reformulações, ajustamentos territoriais, que se faça o que seja necessário ... Mais do que cumprir ideias impostas de fora, FALAR VERDADE: o poder central é, em regra, mau administrador de fundos disponíveis. Bom administrador tem sido, quase sempre (é visível), a freguesia, o munícipio - que faz obra, que faz A OBRA que interessa ao bem-estar das populações.
Claro que é preciso um claro plano geral, claro que é preciso submeter ideias parciais ao todo nacional, mas, se o dinheiro é pouco, que seja o mais possível, no que directamente interessar aos cidadãos no seu dia-a-dia. Numa palavra, o pouco que houver bom será que já parar às autarquias (eventualmente reformuladas) para o que comprovadamente lhes interesse - sem prejuízo da óbvia aprovação e posterior acompanhamento central dos respectivos desempenhos.
Portugal "mais teso", se calhar, nem quase daria pela crise. Assim lhe dessem os cêntimos de que pudessem resultar benefícios para fazer coisas ... As autarquias, regra geral, sabem fazer coisas ... Mais: se não voltámos politicamente para trás, se calhar, devemo-lo ao Poder Local - que trabalhou. E será a trabalhar que talvez não nos cheguemos a ver gregos ... Penso eu, que vivo num espaço periférico de Lisboa, onde me sinto um dos ... De resto, ai da chefia autárquica que não dê mostras de cumprir o necessário: a gente encontra-a na rua e diz-lhe na cara o que falta - ou procura-a para lhe dizer um Bem-Haja directo pelo que fez ... O que é sempre mais confortável, convenhamos.
Vejamos a coisa de outro modo: quem é que, do chamado povo, conseguiu falar ao sr. Sócrates? Quem é que consegue dizer directamente qualquer coisa ao sr. Passos Coelho? ...
Mas o da Junta, pelo menos, o da minha, é só querer ... "Não há rega, senhora fulana ...", "a limpeza está descontrolada e ninguém a fiscaliza...", "o prometido cemitério não há maneira de aparecer ...". Coisas assim.
Ou no interior do país: "sr. fulano, já só somos setenta ... Metam nisto estagiários das universidades, sobretudo, das faculdades ligadas às coisas do campo ... Incentivem farmácias ambulantes..." Coisas assim.
Vou acreditar. Mas todos os dias irei conferir o saldo... Logo que abram as contas, claro. Uma coisa acho indispensável que não aconteça: DEMAGOGIA na eventual descentralização. Prometeram flores no adro, por exemplo. Não vão mandá-las pôr no sítio certo apenas quando lá for o sr. presidente ou em situação análoga...
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