segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Excerto de uma carta do padre António Vieira

De uma carta a Duarte Ribeiro de Macedo *, datada de Roma, 1673, e publicada em 1827

"Senhor meu:

Confesso a vossa senhoria que me têm tão desconsolado e quási desanimado as novas que vêm do nosso reino, que já lhe não quero esperar remédio, nem cuidar nêle como atègora fazia, e ocupar-me só em o pedir a quem só o pode dar, e não sem milagre, conformando-me com a sua providência quanto o sofre  a minha imperfeição.

Não se ouve outra coisa pelas conversações, praças e boticas de Roma, senão as desuniões e alterações de Portugal, e as facções entre as parcialidades dos dois irmãos (D.Pedro II e D. Afonso VI), que hoje se publica estão mais vivas que nunca. De Madrid se escreve que as ilhas estão levantadas por El-rei D. Afonso, e que assim o confirmou um navio das Índias, que chegou de Cadiz com a nova da morte do conde de Lemos.

As cartas que tem o Residente do Secretário de Estado supõem (como eu também creio) tudo ao contrário;
mas tanto mal é que isto se diga, e que haja tantos fundamentos para ser provável ou crível, que, se não é, poderá ser, e que não é na execução, é na vontade e desafeição de muitos ou de quási todos; só para fazer inimigos temos arte, como se não bastassem os de fora. (...)"

* "Notável escritor, político e diplomata português, que desempenhou papel importantíssimo nos reinados de D. Afonso VI e D. Pedro II."

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