Mas não é esse o miolo deste apontamento. Este apontamento é apenas para ... para "dissertar" acerca da palavra ... da palavra juventude ... A tal, aquela a que se referiu o cônsul Carlos Lemos, do outro lado da linha, a partir da terra dos cangurus. Socorro-me de Vergílio Ferreira e, com palavras do Mestre, faço o discurso:
"Quando um cataclismo acontece, há um desregramento geral. Oportunistas, salteadores, mesmo assassinos. Somos na nossa normalidade uma teia que nos liga aos outros e que a todos nos sustenta. Quanto génio se não terá criado na implícita necessidade da relação com esses outros. E a vida quotidiana, desde a porteira que nos diz bom-dia quando vamos buscar o jornal, aos inúmeros encontros e telefonemas que nos fazem existir. Mas na velhice a rede vai-se desintegrando. Cada homem realiza-se em função dos que lha estruturam. É a rede que estabelecemos na juventude e vem vindo connosco ao longo da vida. Com ela somos quem somos e a eternidade connosco. Quando um jovem se integra nela, é uma festa. Porque vem de outra zona de existir e traz-nos a ilusão ou a esperança de que também nela existimos. E é uma festa porque nos faz renascer. Mas a verdade verdadeira está noutro lado, na teia em que somos aranha, no código em que a palavra se entende.
Como falares ainda, se não há quem te entenda? De vez em quando um laço da rede desfaz-se, um amigo calou-se definitivamente. E ano a ano, mês a mês, com uma frequência proporcional ao aproximar do fim, amigos e conhecidos vão-te deixar a falar sozinho. O desprendimento ou desinteresse na velhice não tem tanto a ver contigo como com a impossibilidade de te ouvirem. Estás só, cada vez mais só. É altura de te calares, se não queres que te metam num manicómio. Porque é lá que se fala sozinho."
Ainda não é caso. Até ainda há quem me telefone longamente do outro lado do mundo, na juventude dos seus 85 ...
Excelente texto.Um beijo meu jovem e querido Amigo.Luísa Barragon
ResponderEliminarAi, minha querida Luísa, que bom é ouvi-la, apetece-me dizer. Acredito no que escrevo e é por acreditar que me lancei "no outro dia" nesta aventura de estar aqui, sentado num banco que, como se sabe, é de jardim. Um grande abraço.
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