sábado, 14 de janeiro de 2012

Geografia - Danúbio Verde 2

















"(...) Em Viena dir-se-ia que até os cavalos são ensinados a dançar. Pena é que a cidade, como Lisboa em relação ao fado, comece a estar tentada a vender a valsa "a metro". É - perdoemos-lhe - o preço do "excesso"de popularidade. Esqueçamos.


Afinal, em Viena até os arquitectos levaram anos e anos a conceber salões a fim de que Strauss pudesse descobrir a valsa ... Mas, - oh, cúmulo! - para que os arquitectos, como é visível, não falhassem, houve que fazer uma aliança com os urbanistas e Viena, ampla por dentro e por fora, é hoje espaço aberto e desafogado à altura da música de Strauss e de todas as músicas que inspirou e fazem dela a sua capital. E é assim, como que seguindo um destino de há muito fixado, que a cidade é, agora, o centro da neutralidade austríaca. Finalmente, Viena-Arte não poderá ter, num mundo dividido, outro papel que não o que desempenha nos nossos dias. Viena é, pois, quanto a mim, pelas suas próprias características, o local em que os políticos, quando lá chegam, primeiro valsam, a seguir discutem e depois valsam. Mas nunca se atrevem a discutir Viena. Como?!... Viena tem um Museu de História Natural que lembra o de Londres, um de História de Arte que recorda o Louvre. E - porque não? - uma ... Feira da Ladra que dá parecenças com a de Lisboa ... Viena é de todos. Jamais, nos tempos que vão correndo, para guerrear.


Entretanto, à noite, surge feminina e despe-se até um palmo abaixo do pescoço, ao mesmo tempo que desce as saias até aos pés. Ilumina, então, o rosto à luz da vela e deita-se antes que ela se consuma. Bebe um copo e se se deitar por ter entrado numa "boite", torna tudo incaracterístico. Viena nocturna só o é nos salões. Fora disso, é Nova Iorque, é Paris. Não é Viena.


Para não perder a personalidade, a Roma da Música, quando Strauss está no intervalo, dá entrada a Haydn, Schubert ou outro qualquer general famoso. Se faz ouvir Elvis, diverte-se - mas ignora-se. E a ignorância não é, de facto, a sua imagem. Viena-Triunfal é, além do mais, a Capital da Esperança. É a Capital da Música. E a música, se, com Strauss, é azul no Danúbio, é também verde enquanto, para os mortais, for esta a cor do futuro."

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