segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Geografia - Transplantação intercontinental 1
"Para uma europeu, Toronto é uma cidade despenteada com tentativa de risco ao meio. É Nova Iorque ou S. Paulo com pedaços de Inglaterra à volta. De momento (1978), vive no rés-do-chão ou no primeiro andar. Mas, bem vistas as coisas, o seu futuro ainda vai na subcave ou na cave. Os alicerces da cidade, contudo, são comerciais. Dizem-me que os do Canadá - ele todo - também. E não só por razões climatéricas. É a grande diferença da Europa - que já o é, mas culturalmente, dez metros abaixo da superfície.
Toronto ou é velha com "maquillage" europeia, ou é nova com verniz de Estados Unidos da América. Tende a ser mais esta do que aquela, como é natural. Por isso, mais pátria de betão e vidro do que um qualquer Shakespeare de sua majestade Britânica que, se viesse a aparecer, seria para ler nos intervalos da lição de computador. Delacroix, Dante, Murillo e Camões são enfadonhos estrangeiros de direito - e de facto. Apesar dos esforços oficiais no sentido do multiculturalismo ... Wernher von Braun, Einstein vão ser heróis. Charlot, dos "Tempos Modernos", foi um génio para os europeus e um caricaturista para os homens do "novos mundos". Tudo se encaminha, pelos modos, no sentido de a Europa se converter na sala de leitura, em particular, do Canadá. Ao Velho Continente começarão a chegar, em breve, os índios não assimilados pela "máquina" que, deixando na sua terra os "robots" a trabalhar, virão estudar a nossa história e saber quem foram os tais Camões e outros de que lhes falaram apressadamente. A menos que os emigrantes resistam às tentações dos dólares, não transformem todas as conversas em dinheiro e se acabem
por interessar, por aprender, lá longe, aquilo que não conseguiram - ou não os deixaram - absorver, enquanto permaneceram nas suas aldeias de origem ( ... )"
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