sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A flor

Li-lhe nos olhos o pedido de anonimato, mas não mais do que isso ...

Entretanto, se tivesse que ter um título, apetecia-me que fosse Natividade, não por ser nome que me andou/anda perto, mas porque é disso que se trata: NASCIMENTO. E porque há coisas que é preciso dizer/escrever com frequência. Repetir, repetir, repetir.


"Uma flor para a minha filha. Uma flor para uma flor. Seca a primeira, cuida da segunda, de carne e osso. Segura muito bem o seu caule. Não percas nem um grama desses dois quilos e seiscentos de pétalas. Nunca! Rega-a a todas as horas com o carinho com que, também tu, foste criada. Deixa-a crescer rumo à luz, à luz do sol - saudável e em paz, livre, mas protegida e robusta de corpo e espírito, viçosa, alegre, mas senhora de si própria; prepara-a por fora e por dentro para enfrentar todos os climas e eventuais poluições - agora e no século XXI, em que, com dignidade, só acabarão por sobreviver as flores que, ao longo da vida, tenham tido bons e atentos jardineiros. Fala com ela. As flores gostam que se lhes fale, e diz-lhe que ela tem antepassados já com folhas caídas, é certo, já no Outono, sem dúvida, mas VIVOS e conscientes das suas responsabilidades, a que nunca faltarão, para que a semente, que se perde nas idades, germine sempre. Com AMOR - que é muito mais do que um simples e emocional afago.

Cria-a, cultiva-a no meio de outras flores, mas não deixes que o seu desenvolvimento seja tolhido por ervas daninhas. Abriga-a dos ventos, mas "aduba" o seu crescimento com o saber que sabes e com todo o que vieres a saber. Para que não murche o que tanto foi desejado (...)" 

1989 Abril, dia 29

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