Quando eu era miúdo havia espectáculos de circo no Coliseu de Lisboa. E se, sentado aqui no Jardim, ao pé das tertúlias do costume, me é permitido lembrar um dos números que, bilhete pago, mais me entusiasmavam, recordarei o das feras (leões, tigres, panteras, que sei eu ...) que, tranquilas, a páginas tantas, faziam a sua aparição através de um túnel que, ao intervalo, o pessoal da casa, meticulosamente, montava, diante de centenas de olhos expectantes. Entretanto, "a coisa" acabou, ou, pelo menos, não voltou às Portas de Santo Antão, e ... e deixou, por isso, durante anos, de ser assunto.
O que agora é tema não é bem o mesmo, mas anda lá perto - embora tenha crescido em perigo: passámos a ter como que uma recriação do número das feras, mas, desta feita, à entrada dos estádios de futebol, para encaminhar, com o mínimo de riscos, uns fulanos e fulanas, mascarados, mascaradas, que, depois, no circo, perdão, no estádio, são metidas no meio de baias de segurança, sob vigilância de guardas destacados para o local.
O que é novo e não é. Na minha idade de Coliseu, lembro-me de, enquanto sócio de um dos clubes de Lisboa, só me dar conta dos golos da minha equipa, pelo alarido dos adeptos que, entretanto, haviam conseguido, com os seus gestos invulgares, mobilizar atenções ...
Hoje, hoje a coisa é diferente, enquanto circo: o número das feras, desde logo, pode ver-se à borla - ainda que com algum risco ... Isto é, houve progresso. Não me digam que não é engraçado ver uns tipos (mascarados, ainda por cima), encaminhados como os rebanhos do sr. António, na Serra da Estrela, a imitar os primatas e outros animais que fizeram as minhas delícias de catraio no Coliseu de Lisboa.
Isto é que é civilização. Vou até mais longe: as escolas deviam organizar visitas de estudo a certos estádios, sobretudo quando os manuais de História se referem ao Coliseu, às antigas lutas no Coliseu de Roma, por exemplo.
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