JOSÉ ROLIÇA - Strathroy
"A situação em Portugal era má nos anos cinquenta. Havia sensação de mal-estar em toda a parte.Era como se estivessemos presos; víamos injustiças mas não podíamos abrir a boca. Financeiramente, a vida também era apertada. Eu, por exemplo, senti uma enorme tristeza em não poder continuar os meus estudos, mas não tive a sorte de nascer duma família rica. Para dar ao meu filho essa oportunidade que eu não tive, pensei em sair do país. Apareceu então a altura ideal de vir para o Canadá e aproveitei. Nem tudo foi fácil, porém.
Dou-lhe um exemplo: já tinha quase todos os documentos na mão, mas precisava ainda do registo criminal. Eu sabia que este já estava pronto, mas era preciso dar vinte escudos, por debaixo da mesa para o conseguir. Como eu era contra explorações desse tipo, fui três vezes à vila que ficava a treze quilómetros, na esperança de o conseguir. Nunca me pediram um tostão, mas também não mo deram, até que eu desisti e dei os vinte escudos. Já se vê como era a situação em Portugal e a vigarice que existia no Departamento de Justiça."
in "Imigrantes Portugueses - 25 anos no Canadá", de Domingos Marques e João Medeiros
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