sexta-feira, 16 de março de 2012

Palavras cruzadas 1 - Eça de Queirós



















"As gazetas anunciaram a inauguração da estátua de Eça de Queirós, e fui assistir. A mulher nua abria braços roliços no meio do largo, debaixo das palmeiras. O romancista olhava por cima do ombro, com ar meio farto, meio divertido, à maneira do tetrarca para Herodíade, depois que acabou de dançar e se chega a pedir o galardão. O nome de Eça eu só o conhecia de ouvido. Era um voluptuoso? Um escabichador do real? Escritor da Verdade ... Bem certo que há um grande sortido de pequenas verdades, ao gosto do freguês."
Aquilino Ribeiro


"Eça tinha um programa político. Como ele próprio advertiu, queria destruir pela sátira, o sistema instalado.

(...) Mesmo antes de sair de Portugal, já Eça olhava os seres que se sentavam no Parlamento ou nas cadeiras do poder com insuperável nojo.

(...) Nunca entendeu que, num país onde, além de a aristocracia ter sido dizimada, havia oitenta por cento de analfabetos, jamais poderia existir parlamentarismo aristocrático, como ele via em Inglaterra."
Maria Filomena Mónica


"Um livro de Kafka poderá ler-se uma só vez, mas tem de pensar-se muitas vezes. Um livro de Flaubert ou Eça poderá ler-se muitas vezes, mas pensar-se uma só."
Vergílio Ferreira


"A obra de Eça tem as suas fronteiras no tempo e, à parte o estilo, que é o instrumento de arte mais dúctil que jamais foi posto ao serviço da palavra portuguesa, a sua profundidade nacional é muito relativa.

(...) O Portugal de Ramalho é menos episódico, menos flagrante do que o de Eça - mas é incontestavelmente mais vasto, mais regional, com um mais forte e viçoso aroma silvestre e um vivo sentimento étnico.

O génio de Eça de Queirós é, no fundo, filho da Enciclopédia e o romancista descende, em linha recta, de Flaubert, do romantismo e do naturalismo franceses.

Eça foi um grande escritor europeu nascido em Portugal."
Augusto de Castro

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