quinta-feira, 19 de abril de 2012

Letras de protesto

Jorge de Sena in DIÁRIOS

"O Dr. Amilcar, que conheceu um sargento de Caçadores 5 (ou coisa assim), contou que ia no regimento um vale de lágrimas dos soldados, depois da oferta heróica de marcha para a India, que o comandante fez publicamente (e que me parece, e é, anti-disciplinar: a tropa não se oferece em público, está pronta e quando a mandam...). O nosso contínuo, que é da classe de 51, foi convocado.


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O nosso contínuo, quando se apresentou no regimento dele, foi interrogado por um capitão, que "recebia" os convocados. - Então vem oferecer-se para ir para a India? - Eu não senhor. Pois só há dois motivos para uma pessoa não se oferecer: ter medo ou ter ideias subversivas. Tem algum destes dois motivos? - Não senhor, não tenho. Pois não há outro. E por ali adiante, até que o rapaz, convocado, assinou o documento em como se oferece em defesa da pátria, etc., etc. O mesmo se passara com os outros que lá estavam. O partido comunista que botou manifesto anti-imperialista, com verdades e asneiras à mistura umas com as outras e com mentiras (mas coerentes com a "linha" actual deles), faz este jogo perfeitamente.


No Porto, foram chamados ao Governo Civil os representantes dos jornais para receberem instruções quanto ao noticiário e às teclas políticas da histerização patrioteira. - Mas, sobretudo, meus senhores, que esta nossa reunião não transpire - dizia o Gov. Civil. - Que tudo seja de facto espontâneo."

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