Ora bem, de tanto falar, escrever, sobre o Jardim, a que, como se sabe, dedico todo o meu entusiamo, estou em crer que, com algum pormenor, nunca, verdadeiramente, o caracterizei. É hoje (claro que me refiro ao jardim inspirador deste outro em material sintético e sem cheiros que aqui nos reune ...)!
Para já, lembro-me dele quando encerrava, salvo erro, por volta das sete da tarde, e não tinha iluminação pública. Recordo-me, por exemplo, do tempo em que, por isso mesmo, descobri (descobrimos) que, no conjunto de grades que o cercavam, o cercam, havia, há, duas por onde, passada a cabeça, passa, passava o corpo todo ... O que tranquilizava a malta ...
Mas vamos à caracterização dos espaços.
Para já, sem falas que entropeçam, o jardim é o da Estrela, em Lisboa. Entremos, então, pelo seu lado fronteiro à Basílica.
À direita, ficam os urinóis. E, logo ao lado, a sala onde os jogadores de cartas matam o vício: bisca, sueca, que sei eu ...
Mais adiante, junto ao lago, onde a disnatia de cisnes continua a reinar, temos a esplanada, em que poucos estudam, alguns namoram e outros cheiram ... Cheiram a paisagem envolvente, claro, que tem algumas palmeiras ainda do meu tempo do berlinde.
Uns metros acima, a Cova Funda, onde, estático, continua, discreto, em boa pedra, Antero de Quental. Apetece-me chamar-lhe Antero do Quintal, por causa do espaço em que o prantaram ao relento. De tal maneira que, por vezes, de há uns anos para cá, de vez em quando, aparece todo pintado por "artistas" anónimos, que, quando eu era puto, não se entregavam a (ía a chamar-lhe vandalismos) ... a tais práticas ...
Antes de entrar na Cova Funda, há agora (não era ali ...) uma biblioteca municipal, diria, com razoável frequência da terceira idade, mas também da segunda, louvemos.
No caminho para isto tudo, muitos bancos, avós e algumas mamãs no desemprego, que aproveitam para repensar a vida ... Escusado será dizer que, por entre o arvoredo, como é natural, se bem se observar, podem encontrar-se casalinhos em flagrante namoro ...
Mas estávamos ao pé da Cova Funda, isto é, a dois passos da estátua ao cavador que já foi várias vezes mutilada, apesar da vigilância que a polícia, em carro próprio, tenta fazer - em substituição dos velhos guardas que se confundiam com a paisagem.
Mais para cima (não esqueçamos os parques infantis que, salvo erro, continuama a ser dois, como no tempo em que eu andava de baloiço e desafiava as alturas ...), mais para cima, dizia, há então o coreto, à beira do qual se podem admirar agora Rosas de Israel e muitos, muitos estudantes a ler, enquanto gozam os prazeres da relva-cama, sem nada que a encubra. Aliás, por alguma razão lá ergueram uma estátua a João de Deus, que olha, a meu ver, pelo Bê - A - Bá dos circunstantes. É aí que tenho "o meu banco", tão próximo quanto possível de uma das árvores mais antigas do jardim, que me conhece desde miúdo... O resto já se conhece: vê-se dali Pedro Álvares Cabral e, quase diariamente, surgem os botadores de fala e ... e um ou outro viciado na palavra escrita - sem cuidar de ser isto ou aquilo, muito menos sabichão das dúzias ... Alguns são versados em política e, já percebi, fazem questão de o manifestar quando chegam a casa - por este meio, que aprenderam como eu, com filhos e netos. Isto é, o jardim acaba por ter ali, num dos seus extremos, uma Aula Magna, que às vezes é Parlamento. E sombra para pensar coisas assim como esta ...
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