segunda-feira, 7 de maio de 2012
Os portugueses em França - anos 80 ( I )
O prometido é devido. Ver "post" de ontem.
"Do ponto de vista sócio-laboral são curiosas as trajectórias das principais comunidades de estrangeiros que trabalham em França. Com efeito, enquanto os norte-africanos se ocupam, por exemplo, da limpeza do metropolitano e das ruas de Paris - função onde há uns anos havia muitos portugueses -, hoje os nossos compatriotas ascenderam a outras ocupações, aliás, anteriormente preenchidas pelos espanhóis. É o caso da função de porteiro, a que fomos promovidos em terras de França. E não se esteja para aí a pensar na eventual modéstia do trabalho para que agora somos, a bem dizer, os preferidos. Desde logo, só é porteiro, em princípio, quem é de confiança. E os portugueses, de uma maneira geral, são-no (já por lá se começa a dizer "honesto como um português").
Depois, o lugar exige um certo "homem dos sete ofícios", que também somos. Por outro lado, o porteiro vive, em regra, num bom prédio e não paga aluguer. Acresce, que, ao estar em contacto com "gente fina", sempre, neste seu conhecido jeito para ajudar e se ajudar, ganha "mais uns cobres" ... Por fim, o porteiro tem de ser uma criatura afável, humilde, mas interessada - e o Português é isso tudo. Os Franceses já o descobriram e por essa razão o foram buscar às limpezas do "metrô" e outras, para, em substituição dos espanhóis em debandada, lhe darem novo posto, que, bem vista as coisas, é quase uma recompensa para algumas das virtudes que nos distinguem como povo. É evidente que a França não é os EUA, ou o Brasil, ou a Venezuela. A França é um velho país europeu onde pouco há para descobrir, pelo menos por emigrantes. Para encontrar o nosso peculiar pioneirismo não é este o país indicado. Quando chegámos a França ... a França já estava descoberta. Somos ali aquilo a que se poderia chamar um povo auxiliar. Ou, se se preferir, iniciámos a nossa entrada em França "por baixo". Digamos que, tendo começado nas profundezas do metropolitano parisiense, já estamos ao nível do porteiro (...)"
(continua)
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