domingo, 10 de junho de 2012

Palavras cruzadas ( X ) - Portugal














Luís de Camões

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa

Agostinho da Silva

Dando expressão política a particularidades geográficas e étnicas, interessada pelo comércio e aguiolhada ainda pelas ambições e planos de Borgonha e de Cister, se constitui a Nação no século XII como independente de seus irmãos de Ibéria. Embora a tarefa principal tenha sido a de empurrar o mouro para o Sul, com as fronteiras provisórias, sempre avançadas, do Douro, do Mondego, do Tejo e do mar do Algarve, não se deixou de pensar na raia de leste e, durante séculos, foi uma das determinações da vida do País a oposição, com fortuna vária, a Leão e Castela, quase sempre confundidas com a totalidade da Espanha, que bem virada estava a outros pontos.

Oliveira Martins

Se a unidade da raça primitiva se não vê, menos ainda Portugal obedece na sua formação às ordens da geografia: os barões audazes, ávidos e turbulentos são ao mesmo tempo ignorantes de teorias e sistemas. Vão até onde vai a ponta da espada: tudo lhes convém, tudo lhes serve, contanto que alarguem o seu domínio.

Por isso as fronteiras de Portugal oscilam durante dois séculos à mercê dos azares das guerras, com Leão e Castela de um lado, com os sarracenos do outro; e Portugal vem a ser formado com dois fragmentos do reino leonês, um, dos emirados sarracenos, outro."

Manuel Alegre

O teu destino é nunca haver chegada
O teu destino é outra índia e outro mar
E a nova nau lusíada apontada
A um país que só há no verbo achar

José Hermano Saraiva

Muitos autores têm procurado resposta para esta pergunta: a partir de que momento se deve considerar que Portugal foi um Estado independente? A dificuldade que todos sentiram em encontrar uma solução resulta de que a independência portuguesa não se verificou, como acontece com os Estados modernos, num momento determinado e politicamente bem definido. Foi sendo forjada ao longo de um processo que se desdobra em várias etapas, das quais as mais importantes parecem ter sido a revolta de D. Afonso Henriques e a conquista do governo do condado, em 1128, a paz de Tui, de 1137, a conferência de Samora e a enfeudação ao papa, em 1143, o desaparecimento do título de imperador com a morte de Afonso VII, em 1157, e por último a bula papal de 1179, com o reconhecimento da nova monarquia pela Santa Sé.

Teixeira de Pascoaes

Portugal é uma Raça, porque existe uma Língua portuguesa, uma Arte, uma Literatura, uma História (incluindo a religiosa) - uma actividade moral portuguesa; e, sobretudo, porque existe uma Língua e uma História portuguesas.

Saramago

De memória de guarda da fronteira, nunca tal se viu. Este é o primeiro viajante que no meio do caminho pára o automóvel, tem o motor já em Portugal, mas não o depósito da gasolina, que ainda está em Espanha, e ele próprio assoma ao parapeito naquele exacto centímetro por onde passa a invisível linha de fronteira.

M.A.

Portugal são os meus pais, os meus avós e demais familia e a gente que vejo por aí, à beira de monumentos muito antigos, de prédios em idade de reforma e de muitas peripécias de que me falam os outros. E, já agora, também de alguns papéis e pedras que fui lendo ao longo de décadas e em que tento acreditar ... A minha neta há uns meses que é Arqueóloga. Estou à espera da sua palavra para ver se passo a saber o que me falta acerca de Portugal.

Soares de Passos

"Esta é a ditosa Pátria minha amada!"
Este o jardim de matizadas flores,
Onde os céus com a terra abençoada
Rivalizam nas galas e primores.

Vergílio Ferreira

Ser português. Pensar o nosso destino. É uma quase criação e obsessão dos fins do séc. XIX que atravessou a república, o fascismo e chegou até nós com uma renovada intensidade. Assim é do nosso tempo que de um Pessoa ao Torga certas personalidades se investem da missão de nos doutrinar Portugal. Afora a multiplicada reflexão dos inúmeros pensadores que se indagam sobre o mesmo motivo. Curioso é que o conceito de patriotismo foi variando de conteúdo e deu no séc. XIX o estranho valor de união ibérica ou federação. Curioso é que numa sondagem recente uma percentagem significativa de portugueses afirmou respirar-se melhor em Castela.

Alexandre O'Neill

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde,  Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com o vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha
a desancada varina
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cega-rega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendario na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

Júlio Dantas

(...) como é diferente o amor em Portugal!
Nem a frase subtil, nem o duelo sangrento ...
É o amor coração, é o amor sentimento.
Uma lágrima ... Um beijo ... Uns sinos a tocar ...
Um parzinho que ajoelha e que se vai casar.
Tão simples tudo! Amor, que de rosas se inflora:
Em sendo triste canta, em sendo alegre chora!
O amor simplicidade, o amor delicadeza ...
Ai, como sabe amar a gente portuguesa!

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