sexta-feira, 13 de julho de 2012

Intervalo ( IV ) - com Isabel Magro, guarda-roupa de revista

- É mais fácil despir ou vestir?


- As duas coisas. Ambientei-me no teatro. Só fui lá parar depois de enviuvar aos 49 anos. Mas saí do teatro já muito mais tarde do que a idade da reforma.


Primeiro trabalhei na televisão (2 anos), depois fui para o Teatro Maria Vitória e, então, especializei-me um bocadinho na revista. Mas depois estava cansada daquele estilo de trabalho (embora gostasse...) e fui para o Teatro Aberto, um teatro diferente ... Eu apaixono-me por tudo o que faço... E não sei estar na vida de outra maneira. Estive no teatro durante muitos anos e não me arrependo de nada, porque trabalhei com muito gosto e só me retirei na altura (eles até nem queriam que eu saísse ...) em que estava a fazer falta noutro sítio, que era para dar mais apoio aos meus netos. Foi uma opção de que ainda hoje não estou arrependida.


- Um episódio cómico inesquecível? ...


- Ai tantos, tantos...


- Escolha um ...


- Por exemplo, um com a Ivone. Eu achei muita piada. Fui muito amiga dela, mas eu, às vezes, apesar de ser amiga, sou brusca ... Não temos só qualidades, também temos defeitos. E, às vezes, os defeitos, afinal, não o são... Acabamos por concluir que temos razão ...


A Ivone, como actriz, era muito "geniosa". Uma grande actriz de revista, com  quem muito gostei de trabalhar, que tinha muito valor, mas como era "geniosa", tinha o defeito de, às vezes, ser desagradável com toda a gente. E um dia lembrou-se de querer ir buscar uma blusa ao guarda-roupa, quando já estávamos mesmo para estrear. E eu disse:


- Não! eu já sei como é que vou fazer ...  E fiz ... (não lhe tinhamos ficado com a blusa e, portanto...)


- Então deixe-me entrar...


Quando ela disse "deixe-me entrar", olhei para ela (eu conhecia-lhe o feitio, pisava tudo, era como um elefante...) e respondi-lhe: "Não, não entra!... Porque eu sou a mestra e se digo que não está cá, não entra!..."


- Ai isso é que eu vou entrar!...


- Não vai ... Pode entrar, mas só se alguém da direcção lhe disser que pode entrar. Eu sou a mestra do guarda-roupa. Aqui não entra. Só os patrões e, nesse caso, ponho o lugar à disposição.


Ela foi para baixo fazer queixa ao Henrique Santana. O Henrique subiu e disse:


- Mas ela é a vedeta, tu vais fazer isso?... ( e eu cheia de calma ... Não estava irritada. Porque eu quanto mais me enervo, mais mole sou ... Sou capaz de falar vigorosamente, se a coisa está bem. Se acho que está para além daquilo que ... tenho que ser tremendamente cuidadosa ...).


E então disse: "não entra !..."


Eu entendo, porque ele primeiro disse: "se a deixasse entrar ..." 


- Se a deixasse entrar ela pisava tudo como se fosse um elefante ...


- Ah, isso não! Tens razão ...


E foi para baixo dizer-lhe.


- Conclusão: a Ivone acabou por vir pedir-me desculpa - e não eu a ela ... Aliás, a Ivone era uma mulher inteligente e sensível.  Sabia que ela gostava de escrever?


- De todo ...


- Muita gente não sabia. Ela escrevia, sobretudo, poesia, mas uma poesia um bocadinho pueril, mas com sentimento. Tinha, portanto, mais valor ainda do que saltava cá para fora. E era uma grande actriz. Gostei muito de trabalhar com ela. Respeitava-me muito.


- Uma pergunta difícil: qual foi o ou a maior do seu tempo?


- Em que sentido?...


- Teatralmente falando ...


- Eu trabalhei com gente muito grande, muito grande, muito grande ... Mas, na revista, eu vou-lhe dizer:  trabalhei com a Ivone, que achei que foi, na revista, das maiores actrizes de todos os tempos. Representava admiravelmente. Para mim, na revista, foi ... No entanto, houve outras que foram muito mais ... Mas com quem eu lidei muito foi com a Ivone. No teatro cénico, houve outras: Alexandra Lencastre é uma grande actriz. Mas não é uma pessoa muito segura ... É uma pessoa até simples. Na minha óptica, poderia ainda ser maior. Mas talvez seja uma pessoa com pouco confiança em si própria.


Mas trabalhei com gente muito grande. Gostei muito de trabalhar. Mas quando trabalho com as pessoas, gosto muito de as poder pesquisar, analisar, e quase todas, mesmo as que parecem ter alguns defeitos (perfeito não há ninguém  ...) têm grandes qualidades. Nós nem as vemos.


- Onde a posso fotografar? ...































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