Ao certo, ao certo não se sabe como, checos (marido, mulher e dois filhos) foram para Portalegre, luso interior que o mapa de estradas não esqueceu, mas de que o combóio fica longe. A verdade é que o meu cunhado, perguntado em língua gestual (ou inglesa?) que terra era aquela, terá feito todo o possível para ser claro e tanto gosto, pelos modos, terá manifestado nisso que, para corresponder a sorrisos e ansiedades, se prontificou a fazer de guia - e até a oferecer, à boa lusa maneira, a pernoita nos quartos que tinha disponíveis nas assoalhadas de dois pisos e no sótão que cobria toda a superfície da sua própria casa, não alugada sequer a ninguém - nunca.
Com tal hospitalidade, os checos ficaram encantados, terão revisto nos livros de turismo checo/inglês ou, no essencial, checo/português rumos a seguir, mas foram-se deixando ficar - não sem, no dia seguinte, penso eu, numa visita guiada à cidade e às Tapeçarias, que, se Portugal era hospitaleiro, o Alentejo e, em particular, Portalegre e o meu cunhado não lhe ficavam nada atrás ...
Despediram-se, bem comidos e dormidos, na manhã imediata e foram a caminho de Praga com o convite para aparecer, ele, meu cunhado e a família, na bela e hospitaleira capital checa ... Trocaram lembranças.
O meu cunhado ficou com o endereço checo e, passados meses, aproveitando uma ida a Budapeste, ali ao lado, eu, que não tinha estado em Portalegre na altura da "visita guiada", fui postal e amistosamente apresentado, enquanto português e familiar chegado. Em resumo, acabei por, meses depois, tudo acertado e viabilizado por escrito, com toda a calma, já a noite ía alta por força da chegada nocturna do avião e das necessárias ligações periféricas a partir de Praga (a família checa vivia nos arredores da capital...), chegar a casa dos meus anfitriões que eram, sem tirar nem pôr, os mesmos que tinham sido recebidos em Portalegre com requintes de simpatia. Já passava, entretanto, da meia-noite, depois de uma viagem de autocarro de um terminal rodoviário de Praga até ... até à última paragem de um local de que não consegui fixar o nome.
Fui recebido nuns subúrbios "à luz das velas", digamos, toquei a uma campaínha, apareceu, no silêncio da noite (ufa), um rapaz que me pediu para tirar os sapatos, me emprestou uns chinelos e, em linguagem gestual, me indicou um quarto, uma casa de banho e ... e assim estive, com chave da casa embora, nos arredores de Praga (arredores-Praga - Praga-arredores) uns três ou quatro dias, sem quase ter conhecido os usufrutoários da lusa hospitalidade meses antes. Gostei muito de Praga. É uma cidade lindíssima. Mas isto sabe-se. Há muita literatura que o descreve. Embora tenha coisas que não chegam aos calcanhares de Portalegre...
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