sexta-feira, 5 de outubro de 2012
5 de Outubro lembrado, AQUI, longe da galé *
José Hermano Saraiva in História concisa de Portugal
"Que pretendia o movimento republicano?
Naturalmente a República. Mas não mais do que isso e a mudança de pessoal e de estilo político que daí resultaria. A República era uma aspiração, não um projecto programado. Os monárquicos sentiam isso e acusavam os republicanos de não terem programa. Alguns republicanos mais lúcidos reconheciam que era assim, mas pensavam que não podia ser de outra maneira. Em 1906, um republicano inteligente e convicto, Basílio Teles, escrevia: "Com que direito perguntam ao Partido Republicano por um programa? A monarquia em Portugal tem sido isto: a incompetência, o impudor, a opressão. A estes três artigos de fé compreende-se que não houvesse senão um acto de caridade a contrapor por homens que não viam ideia a combater, mas atentados a punir: a demolição sumária do regime". Sem se dar conta disso, a frase aponta para a maior fragilidade do movimento: homens que não viam ideias a combater. Não as viam, porque as ideias básicas da monarquia não divergiam das suas: capital, propriedade, liberdade, Pátria. Havia por essa altura quem tivesse ideias diferentes. O operário suiço José Fontana, que se instalou em Portugal e aqui teve papel importante no primeiro movimento socialista, esfalfou-se a explicar que, no seu país, já havia república e que isso não tirava nem punha à situação dos trabalhadores. A questão, dizia ele, não era a de mudar de regime político, mas o regime económico. Os republicanos não queriam porém ir por esse caminho, e desde o início a propaganda republicana se alheou de questões estruturais. Não foi uma opção cínica, mas a consequência necessária da força dos factores sociais que estavam na base do movimento: a seara republicana foi semeada pela Regeneração e foram as camadas recém-burguesas ou a caminho de se aburguesar, nascidas dos instrumentos fontistas e da estabilidade prolongada, que serviram de meio acústico aos argumentos republicanos.
Esses argumentos não eram complicados. Fundamentalmente, eram o patriotismo e o anticlericalismo."
* O 5 de Outubro foi hoje lembrado, em Lisboa, na Praça da Galé. A dois passos do local onde mataram o rei. Duplo mau gosto. Talvez na linha do nervoso com que, no Município lisboeta, foi, há pouco, hasteada ao contrário a bandeira portuguesa.
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