Fechou a Barateira

Fechou a Barateira. Não sei porquê. Ou nem quero saber porquê. Fechou a Barateira. A Livraria Barateira. Em Lisboa, na rua Nova da Trindade. A livraria que ficava ali a dois passos do Secundário da meninice de tantos, numa Veiga Beirão guardada pela GNR do Largo do Carmo, ao lado das ruínas do Terramoto. A livraria onde, durante décadas, encontrámos o livro que "já não havia", o livro  perdido a um canto, quiçá orgulhoso do autógrafo do seu autor.A livraria Barateira deixou de existir. Poder-me-iam ter dito: quem sabe se, vendo bem, lá encontraria a preciosidade que, reparo agora, afinal, nunca lá procurei ...

A Barateira vai fazer falta. Bem sei que, aqui, "nesta coisa", de vez em quando, aparecem "mails" que nos tentam oferecer tudo, mas ler livros aqui? Sem cheiro, sem história como os da Barateira ... Tenho saudades da liberdade de circular nos corredores de papel da Barateira. Tenho saudade dos cheiros da Barateira, tenho saudade da promiscuidade intelectual da Barateira. Choro o desaparecimento da Livraria, mesmo que não se chamasse Barateira. Talvez mais do que uma Sá da Costa, na rua do Carmo, ali perto, que transformaram em padaria. Ao menos essa ainda vai continuar a alimentar ... Agora a Barateira?!... O que vão fazer daquele espaço? Para onde foram os livros que ali enchiam prateleiras do chão ao tecto? Será que houve "cerimónia" de encerramento? E onde estão, para onde foram as preciosidades que, quiçá, por lá se encontravam?

Choro o desaparecimento da Barateira, fundada em 1914. Os lisboetas choram o desaparecimento da Barateira. Não por ser barateira, que talvez já não conseguisse ser, mas por ser A Barateira.