quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Gazeta a preto e branco: África do Sul ( IV ) *





















"Joanesburgo, vista do arranha-céus onde nos encontramos neste instante, está como a conhecemos em 1980, isto é, limpa (talvez menos), movimentada (talvez mais) de dia e morta à noite, espigada nuns lados, rasteira noutros, enquadrada sempre, rodeada de planaltos que foram minas e que dão à cidade uma moldura de terra amarela, mesclada de um tom entre o castanho e o vermelho sangrado.

Dos portugueses, daqueles que falam sem a gente quase lhes pedir, já começaram as aberturas: "... pois, a comunidade ... Sim, congressos ... Mas os problemas?... É preciso viver aqui no meio de nós e não ouvir só algumas histórias que pr'aí se contam ..."

Sim, penso e dou-o a atender. Procuraremos estar atentos e, sobretudo, dar a palavra a quem for possível. De qualquer maneira, há uma expressão que se detecta sem dificuldade: "isto é um país a sério ..." Reconhecimento dos que vieram sem nada de Angola ou de Moçambique, e foram bem recebidos, após a exemplar descolonização ou um sentimento também de continentais e madeirenses, vindos da Europa? Cremos que síntese da maioria, para quem, apesar e alguma ansiedade conjuntural, tudo é "nice", no meio da balbúrdia em que transformaram a vida desta geração de fim de século, à procura dos escassos oásis de paz ainda existentes e que, no dizer de Simone Veil, já quase não temos "a não ser talvez na Suiça ..." Não querem lá ver a chatice!... Qualquer dia só na Lua e, mesmo aí, se os americanos e os soviéticos entram em disputa ... De facto, como o povo diz, "a sorte de um homem é escapar ..." e o melhor é trabalhar sem desfalecimentos - na África do Sul ou noutro lugar qualquer. Entrementes, o mundo dá muita volta e nunca se sabe como é que os homens vão encarar o mundo de amanhã. Quem é que, sabendo o que foi o palavreado oficial, há uns meses atrás, poderia conceber o encontro dos representantes de Moçambique com os da África do Sul, em Komatipoort? É que os políticos, há que não o esquecer, inventaram para situações tais a palavra pragmatismo e os cidadãos da rua, à falta de melhor, é nela que confiam, antes de qualquer atitude pessoal desesperada, a seguir à droga, que também nada resolve."

* Estes apontamentos foram publicados na imprensa no início de 1985, mas ... mas talvez valha a pena rever como foi ... Aqui, neste espaço, que sempre é mais "resistente ao tempo" do que o papel de jornal ...

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