quinta-feira, 14 de março de 2013

Conversas abafadas
















Muitos de nós já aqui jogámos, jogámos ao berlinde. Muitos de nós já aqui brincámos aos polícias e ladrões. Muitos de nós já aqui falámos de tudo isto, mas sobretudo, nos últimos tempos, de polícias e ladrões:

- Gatunos! - diz todos os dias, nos últimos tempos, a Maria de Jesus.

- Gatunos! - apoia, em regra, sem especificar, o grupo em que está a Maria de Jesus.

- Porque é que os políticos não têm um vencimento mensal calculado na base do salário mais alto fixado em contrato colectivo de trabalho aprovado em Concertação Social? - pergunta em voz alta o Asdrúbal, que foi motorista de táxi ali próximo de S. Bento.

- Qual quê?!... Isso era muito dinheiro ... - salta de lá o Malheiros, que parecia distraído.

- E ... e as viagens de avião? ... Será que vão todos em turistica?... - perguntou o Manuel Barbeiro.

- Não acredito! O que sei é que este mês, com as reduções na pensão, os aumentos da água e da luz, para não falar no do gás, e nas contas da farmácia ... já tive que ... - gaguejou o Zé, que é talvez o mais antigo frequentador das imediações deste banco de jardim.  

- São todos uns aldrabões!... - gritou o homem que andava ali perto a cortar a relva circundante ... Qualquer dia nem eu escapo ... 

- Ó das Relvas, és alguma coisa ao outro?... - gracejou o Gonçalves.

- Qual é o trunfo? ... - ouviu-se.

- Ouros! Alguém ainda tem ouros?... - e as atenções concentraram-se de novo no jogo que decorria a dois passos dali. Não muito longe de S. Bento.



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