sábado, 20 de abril de 2013

Canteiro de palavras - umas palavrinhas prévias e... e Germinal, de Zola (LXIII)












Lêem-se os nossos que a escola recomenda ou os amigos aconselham e, duma assentada, sabe-se o essencial, por exemplo, de A Lã e a Neve e/ou da Engrenagem, escritos em língua pátria.

Mas há um outro universo de palavras à nossa espera. Por vezes assustador, pela quantidade de substantivos e verbos que nos propõe, não já para saborear, mas para a refeição completa que impõe eventuais aprofundamentos na abordagem. Compra-se numa feira do livro, por exemplo, o Germinal, de Emílio Zola, e conhecida a sua universalidade, "diz-se-lhe" que espere para "maturação completa" do comprador. E aí está: adquirido o livro em 1970, só agora, em 2013 (sem exageros!...) é que, em recolhimento provinciano, se julga saber o bastante para "comer" 500 páginas de revolta para ... para, no fundo, concluir que o grito se mantém tão utópico quanto, a nível doméstico, outros (A Lã e a Neve, A Engrenagem, por exemplo) o foram em bem intencionadas sínteses.

Entretanto, de Germinal - agora, para que se perceba ...

"(...) Nele agora a evolução era completa: tendo partido da fraternidade enternecida do catecúmenos, da necessidade de reformar o salariato, desaguava na ideia política de o suprimir.

(...) Primeiro, estabelecia que a liberdade se não podia obter senão destruindo o Estado. Depois, assim o povo se apossasse do governo, principiariam as reformas: regresso à comuna primitiva, substituição da família moral e opressiva por uma família igualitária e livre, igualdade absoluta, civil, política e económica, garantia da independência individual pela posse e pelo produto integral dos utensílios de trabalho, finalmente instrução profissional e gratuita, paga pela colectividade.

(...) O Estevão atacava o casamento, o direito de testar, regulamentava a riqueza de cada um, deitava abaixo o monumento iníquo dos séculos desaparecidos num grande gesto do seu braço, sempre do mesmo braço, o gesto do ceifeiro que tosquia a seara madura; e reconstruía depois com a outra mão, edificava a humanidade futura, o edifício de verdade e de justiça, crescendo na aurora do século vinte. 

(...) Os escrúpulos da sua sensibilidade e do seu bom-senso iam no enxurro, nada se afigurava mais fácil do que a realização daquele mundo novo; ele tudo previra, falava daquilo como de uma máquina que se comprometia a montar em duas horas, e nem o fogo nem o sangue lhe importavam.

(...) Alevantava-se da terra uma exaltação religiosa, a febre de esperança dos primeiros cristãos da Igreja, aguardando o reinado próximo da justiça."




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