in O Deus das Pequenas Coisas
de Arundhati Roy
"A estrada foi inundada por milhares de manifestantes em poucos minutos. Ilhas automobilísticas num rio de gente. O ar encheu-se de bandeiras vermelhas que submergiam e emergiam à medida que os manifestantes mergulhavam sob a cancela da passagem de nível e se precipitavam sobre os trilhos do caminho-de-ferro numa onda vermelha.
O som de milhares de vozes derramou-se sobre o tráfico estagnado como um Guarda-Chuva de Barulho.
"Inquilab Zindabad!
Thozhilali Ekta Zimdabad!"
- Viva a Revolução! - gritavam eles. - Trabalhadores de Todo o Mundo Uni-vos!
Nem mesmo Chacko encontrava uma explicação cabal para o facto de o Partido Comunista ter muito mais sucesso em Kerala do que em qualquer outra região da India, à excepção, talvez, de Bengala.
Havia várias teorias rivais. Uma era que tudo tinha a ver com o elevado número de cristãos no Estado. Vinte por cento da população de Kerala era constituída por cristãos sírios que acreditavam ser os descendentes da centena de brâmanes convertidos ao cristianismo pelo Apóstolo São Tomé quando este viajou para o Oriente após a Ressurreição. Estruturalmente - prosseguia esta linha argumentativa algo rudimentar -, o marxismo era um substituto simples do cristianismo. Substitui-se Deus por Marx, Satã pela burguesia, o Céu pela sociedade sem classes, a Igreja pelo Partido, e a forma e o fim de viagem permanecem idênticos. Uma corrida com obstáculos, com direito a prémio no final. Ao passo que a mente hindu tinha que proceder a ajustamentos complexos."
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