quinta-feira, 25 de abril de 2013

Do lido, o sublinhado ( 31 )











in PENSAR de Vergílio Ferreira *

A VERDADE

"Os políticos que se dizem de esquerda, por ser o bom sítio de se ser político, estão sempre a afirmar que são de esquerda, não vá a gente esquecer-se ou julgar que mudaram de poiso. Mas dito isso, não é preciso ter de explicar de que sítio são os actos que a necessidade política os vai obrigando a praticar. Como os de direita, aliás, que é um lugar mais espinhoso. O que importa é dizerem onde instalaram a sua reputação, na ideia de que o nome é que dá realidade às coisas. E se antes disso nos explicassem o que é isso de se ser de esquerda ou de direita? Nós trabalhamos com papéis que não sabemos se têm cobertura, como no faz-de-conta infantil. Mas o que é curioso é que o comércio político funciona à mesma com os cheques sem cobertura. E ninguém tira a limpo esse abuso de confiança, para as cadeias existirem. Mas o homem é um ser fictício em todo o seu ser. E é precisa a morte para ele enfim ser verdadeiro."

"Devemos ter atingido o limite do possível de quaisquer verdades. Devemos ter atingido o limite em que qualquer uma é admissível, ou seja, nenhuma. Uma verdade tem a ver também com a sua conveniência, relação harmónica com o seu contexto. Porque um contexto, como uma circunstância, diz até onde a verdade pode ir.Como a licença das nossas atitudes ou do simples vestuário. Toda a verdade é assim condicionada pela moldura de mil motivos. Nenhuma verdade pode ir assim para além do molde, de um anteparo, de um cinto de segurança. Senão é a desordem, a dissolução, o estampanço. Porque a maior razão da verdade está fora dela."

* revisitado depois de ter assistido pela televisão à sessão comemorativa do 25 DE ABRIL, na Assembleia da República.

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