segunda-feira, 22 de abril de 2013

Negros e brancos *











* Recuperar os Encontros Internacionais de Genebra

"um blogue é um espaço na WEB cuja estrutura permite, duma forma simples e directa, o registo (...) de opiniões, emoções, imagens, factos (...)", dizem e eu, enquanto frequentador assíduo de um jardim que tem flores e opiniões, acho que sim, que é como fica transcrito. Donde ...

in "O Conhecimento do Homem no Século XX" (desculpe-se o atraso, mas é um caso Do lido, o sublinhado, neste blogue)

"M. GRIAULE: Se houvesse estudantes do liceu nesta sala, creio que rejubilariam ao ouvir-vos e que exclamariam: "Na verdade, para que nos maçam com o grego e o latim, que não servem para nada?"

No que se refere aos Negros, não vejo em que ficariam diminuídos se fossem biligues, se possuíssem simultâneamente uma língua estrangeira e a sua própria, que corresponde melhor ao espírito deles.

Quando se afirma que "os Negros são metafisicos", perguntam-nos: "Mas sois contra os Brancos, ou pela conservação dessa metafísica?" Não. Eu afirmo: são metafisicos. E não afirmo mais nada. Para entrar no mundo prático, afirmo que, quando enviamos oficiais de alfândega, ou administradores distintos - do nosso ponto de vista - e magistrados não menos distintos - do ponto de vista jurídico europeu -, cometemos um crime, um crime técnico, um genocídio, se não lhe proporcionarmos um certo conhecimento do Negro, se não os convencermos sinceramente de que os Negros são nossos semelhantes no plano espiritual.

Afirmo que devemos ensinar os magistrados, gritar aos militares, aos administradores, aos colonos: atenção ides tratar com pessoas que têm uma civilização, nem mais nem menos respeitável que a vossa, mas pela qual nos podemos bater como pela nossa. Porque é que devemos conservar a nossa civilização e não a deles? Batemo-nos constantemente pela civilizações, pelo menos é que se lê nos jornais, no La Suisse como no France-Soir; batemo-nos não sei por que ideal na Coreia e não sei onde mais. Batemo-nos pelas civilizações. Mas então, andamos a brincar? Porque é que não havemos de ser capazes de nos bater pela civilização negra? Eu sou capaz de me bater pela civilização negra contra nossa, se a nossa civilização consistir em demolir a civilização dos outros, e é o que fazemos no que lhes diz respeito.

Considerai Taoré, não é um negro, é um branco. Fala francês, cresceu nos bancos das nossas escolas. Não foi ao Bosque Sagrado. Já não é um negro. Nós destruímos a sua negridão, como diria Sartre; o genocídio é isso. Seria ele inferior a si próprio se cavalgasse duas civilizações? Não é científico afirmar que um sacrifício de ave incompreendido, que uma dança mascarada, devem ser reprimidos porque nada acrescentam à organização portuária de Dacar ou ao estabelecimento de uma rede rodoviária.

Afinal, nós não somos apenas mecânicos, somos também apaixonados, temos também uma moral, somos sensíveis à literatura, à poesia. Pois bem, os Negros têm a sua sensibilidade original e eu penso que é pena não a conservar, não a prorrogar, não a promover. Não se trata de encerrar os Negros em parques nacionais, pedindo-lhes a gentileza de permanecerem no estado em que se encontram. Trata-se de tomar o que eles têm de rico e de transpô-lo para a nossa própria situação ou para a situação que lhe queremos criar.

TAORÉ: Griaule disse que eu não sou negro, que eu sou um europeu ...

M. GRIAULE: Não absolutamente, mas grosso modo é verdade.

TAORÉ: Pois bem, protesto. Eu pretendo deixar de ser negro e, quando o conseguir, serei um homem. A negridão, no sentido sartriano da palavra, é pura conversa, a negridão é simplesmente a consciência que o negro tem da sua situação de alienado. É isso que faz de um negro um negro, quer dizer, um homem que se reivindica como tal. Mas além da negridão está a consciência humana, e é isso que reclamamos. O senhor diz que são os Negros que não querem prestar os esclarecimentos necessários para resolver o problema negro. Protesto. Nós afirmamos que a Europa é responsável pela destruição da civilização negra. O que vos censuramos, em particular aos senhores etnólogos, é dizerem: "Existe uma civilização negra". Não, não existe uma civilização negra ...

M. GRIAULE: Existe, sim, existe uma civilização negra.

TAORÉ: Não, existiu ...

M. GRIAULE: Gostos não se discutem. Eu digo "Existe..."

TAORÉ: Se existisse uma civilização negra, a sua objecção não teria fundamento: eu teria sido educado nessa civilização negra. Já não há autonomia cultural negra. É esta a verdade. A atitude actual do Negro é determinar-se em relação ao que se constrói. Afirmei há pouco que a civilização europeia também se destruiu, e a Europa, deixando de ser cristã, deixa de ser uma civilização. Também ela procura, também constrói. Os conflitos actuais conduzem-nos a isso e o problema não é a Europa fazer o que nós devemos fazer, mas não nos impedir de fazer o que devemos fazer."

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