sexta-feira, 19 de julho de 2013

Epitáfios

Pecado, pecado, se existe, é, de certeza, outra coisa. Não é dizer, não é escrever numa pedra tumular para potenciais milhões e milhões de visitantes, que um cemitério é um lugar de, em boa parte, de ... de mentira. De mentira, sem contraditório, isto é, da pior mentira que se conhece. Não dos mortos, claro, mas dos que ficam e sabe Deus o que pretendem justificar perante os que, vivos, fazem visitas de cortesia ou de reflexão/homenagem aos que partiram.



"Nunca serás esquecido"

"Eterna saudade"

"Ficámos mais pobres"

Ninguém, sobrevivente, escreve numa lápide funerária OBRIGADO PELA FORTUNA QUE NOS DEIXASTE, e raras são as referências aos legados morais que possam ter ficado. Também os há, também aparecem gravados na pedra, em momentos eventualmente, por vezes, distantes entre a morte e a "homenagem" póstuma. A excepção confirma a regra. A regra que é a mentira, socialmente susceptível de "passar" sem o mais leve comentário em voz alta ... Dir-se-á que será sempre assim por respeito para com os extintos (com excepção dos canteiros cujo ofício, em parte, é escrever o que lhe ditam ...).

Não faltarão por ai, entretanto, de certeza,, teses de mestrado e outras a propósito do culto dos mortos, mas o que aqui, em meia dúzia de linhas, se pretende sublinhar, não é a inexistência desse eventual respeito póstumo ... O que, em duas regras, se gostaria de "reclamar" é a verdade da Vida - para além da morte. Evidenciando o cinismo, a mentira, a vaidade idiota da talvez maior parte dos epitáfios que se lêem por aí ...

"Ficámos mais pobres quando deixaste esta vida". Acredito. Mas se assim foi seria mais razoável, em certas circunstâncias, não o declarar publicamente, que a verdade, quando é profunda e desinteressada, dispensa tais epitáfios ...

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