Rui Assis dos Santos, em S. Paulo, Brasil, Março de 1980, onde está? Está? Não está? ESTÁ! Está aqui. Não o vice-cônsul, mas também. Ou melhor: está AQUI o cidadão, a memória de toda a simpatia com que recebeu o representante de um jornal português. "Não temos cônsul, trabalhe neste gabinete (o gabinete é o do cônsul que não há ...), esteja à vontade ... Use a cada de banho privada e, se precisar de telefonar, tem linha directa ... Disponha!"
Entretanto, durante cerca de uma semana Rui Assis dos Santos apresentou-me "a todos os portugueses" que conhecia ... De manhã, à tarde (em almoços inesquecíveis), à noite (em serões na intimidade de gente nossa - SEMPRE).
Rui Assis dos Santos, o Poeta, ele próprio, relido HOJE, muito mais do que na gentileza de um autógrafo:
Quem sou?
Donde vim?
Que faço aqui
Isolado do Universo sem fim?
Sou homem, rato, animal?
Sou máquina, arado, enxada,
Ou sou tudo e não sou nada
Neste mundo material?
Sou arma, bala, foguete,
Oração, verso rimado,
Por quem fui aqui chamado,
Onde soa tudo a falsete?
Eu quem sou? Que não recordo
Minha anterior geração;
Fui peixe, gato ou cão?
De que noite agora acordo?
Tenho alma, coração,
Corpo mesquinho e doente
Sangue, ossos, tenho mente
Olhos, barriga e razão
Donde vim até aqui
Onde me sinto isolado?
Antes mal acompanhado!
É apanhado!
Não digam que me perdi!
Mas que faço eu afinal?
Giro no espaço, sou planeta?
Lento demais para cometa
Mascarado em carnaval
Retalhado em carne viva
É a gesta da hora que passa
Ao menos a morte não maça
Só se houver recidiva
Vai para o fundo do inferno
Vai dialogar com o demo
Eu cá por mim não o temo,
Comigo é manso, amigo, terno
E põe no jornal a notícia
Da cena mais patarata
Vender a alma barata
Sem retribuição, estultícia
Por isso eu quero saber
Quem me mandou até aqui
Já não posso estar sem ti,
Estou bravo, quente, a ferver
Mas estou só, desacompanhado,
Isolado do Universo;
Cada dia mais perverso
Mas vivo, pensando, acordado!
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