"(...) Raspar as feridas do passado: é isso que Gustavo executa ao esgravatar memórias da guerra civil.
- Do que mais se lembram do tempo de guerra?
- Não há nada a lembrar, meu senhor - diz um camponês.
- Como não há?
-Todos voltamos mortos da guerra.
Desvio o rosto. Não quero que se veja a vingança florindo no meu sorriso. Nenhuma guerra se relata. Onde há sangue, não há palavra. O escritor está a pedir aos mortos que mostrem as cicatrizes.
No momento, ocorre-me que é isso que me apraz na caçada: regressar para além da vida, isento de ser pessoa."
Mia Couto
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