*Diário de Notícias de 23 de Dezembro de 1981
"Era uma vez um menino chamado Anant que tinha 5 anos e nasceu em Goa. Um dia viu umas pinturas do tio Vamona e perguntou-lhe o que queriam dizer. O tio disse-lhe: são desenhos e pinturas que explicam "Os Lusíadas. Então o tio Vamona explicou-lhe que "Os Lusíadas" eram a história muito linda de um povo chamado português que, muitos anos antes, vivera em Goa. O autor desse livro era Luís de Camões que morreu há 400 anos e vivera também em Goa.
E o menino goês perguntou:
- E que é que ele leva aqui na mão, quando vai a nadar?
- O barco foi ao fundo. E Luís de Camões, por gostar muito dos versos contando a história dos portugueses que chegaram à India pela primeira vez, salvou-os nadando só com um braço.
E o tio Vamona contou com alguns pormenores a história guardada em "Os Lusíadas" que era também a história de Portugal. E que por fazer versos tão bonitos lhe puseram uma coroa de louros na cabeça.
Depois o menino disse:
- Gosto de Camões e de "Os Lusíadas". Posso fazer o retrato do poeta com a coroa?
E assim nasceu o terceiro retrato de Camões feito em Goa, vinte anos após já não haver portugueses em Goa.
Resta dizer que o menino chamado Anant Esvonta Sinai Navelcar não sabe uma palavra de português e que o tio Vamona A. Sinai Navelcar teve de falar em inglês. Pouco mais de um quarto de século envenenado pela política biliosa de Salazar, que cortou relações culturais com a India independente, chegaria para que um menino de cinco anos só aprendesse o idioma de sua majestade a rainha Vitória de Inglaterra "pacificadora" da India.
É por isso que aqui se dá o retrato de um menino chamado Anant a retratar Camões. Talvez que muitos outros daqui em diante aprendam português para saberem ler "Os Lusíadas" e ouvirem na sua língua outros tios Vamona contar a história de Camões..."
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