sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Mocidade que passa ...

Às vezes, quando chove, como é o caso d'hoje, venho ao jardim e, à falta de melhor solução, ponho  a tecla das memórias de infância a funcionar ... Mas hoje não fiquei aqui, perto do banco, onde eu era o melhor a jogar ao berlinde ... Hoje fui até ao coreto e entrei. Não estava lá ninguém. Os passantes, esses, escassos, encolhidos nos seus guarda-chuvas, nem me viam. E, como se estivesse sozinho no mundo, pus-me a cantar. A cantar como se ainda fosse catraio. Chamei à memória o Prof. Leitão e adeus relógio... Perdi a noção das horas e ... e, no meio da cantiga, lembrei aquela malta toda da "pirata assada", que era assim que a gente chamava à Primeira Classe da Primária. Lá estava o Cabeças, o Rosa (o pai era padeiro, lembro-me bem ...), o Brito, que tinha muito jeito para o desenho ( menos do que eu, dizia-se ...), o Basílio, que, no intervalo da manhã, comia dois papo-secos, e um outro que integrava o grupo dos "mais abastados" e que fazia, imagine-se, bonecos em plasticina ... Mas não sou capaz de me recordar do nome de todos (a fotografia é de 1946, note-se).

"- Cá vamos cantando e rindo, levados, levados, sim ..." - sem querer, distraído, cantei alto ...

- Fascista! - gritou um dos passantes, como que escondido no seu largo chapéu de chuva.

Calei-me. E fiquei a pensar, não que tinha começado a cantar qualquer coisa eventualmente errada, fora de tempo, mas na mocidade, nessa, que passa ... Rapei da carteira e humedeceram-se-me os olhos. Estavam lá todos, estão lá todos - até os que "já não estão"... E, mentalmente, desatei  a jogar ao berlinde com os da minha rua.

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