quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
"Portugal e a crise" in COMMUNITAS*
* Jornal do Colégio Universitário Pio XII
(com a devida vénia)
"O filósofo Edmund Husserl, em 1935, num continente já em efervescência, concluía sabiamente que o "maior perigo para Europa era o cansaço". Após a I Guerra Mundial esta parte do mundo foi varrida por uma onda de pessimismo radical que a empurrou para um processo de contestação às raízes e valores da nossa civilização. O mundo entrou em ebulição e as consequências das novas experiências políticas e sociais, baseadas em ideologias anticristãs (comunismo, fascismo, ateísmo radical) ainda hoje se fazem sentir.
O nascimento da União Europeia, o fim da Guerra Fria e a aprovação da moeda única suscitaram uma vaga de optimismo justificado pela época de paz e prosperidade que se seguiu. Mas o processo de globalização e o colapso do sistema financeiro trouxeram a crise à Europa e agravaram a situação portuguesa. De repente, todos acordamos para a realidade e estamos perante uma sociedade incrédula, revoltada, dividida e empobrecida.
Há anos que, das grandes organizações internacionais e governos, nos chegavam sinais de alarme: Portugal caminha para o abismo. Mas todos os órgãos de soberania, desde a presidência aos governos até aos partidos políticos e elites económicas, não viram ou não quiseram ver a crise já que todos beneficiavam com este Estado gastador que oferecia o que não tinha. Era previsível que Portugal não podia conviver com tantas dívidas e o país implodiu. Agora há que dizer a verdade ao país.
Segundo doutas interpretações parece que a nossa constituição assegura que todos, especialmente alto funcionalismo público, têm direito a ser ricos. Mas é ilusão pensar que a riqueza se cria por decreto. Estão a pensar num país que já não existe e não devemos colaborar nessa farsa. E os jovens, para poderem enfrentar o futuro e reconstruir o país em novas bases devem saber a verdade por mais amarga que ela seja. Agora, há que tomar medidas urgentes que nos afastem do abismo, começando por proteger os mais pobres e vulneráveis mas cortando corajosamente salários e regalias de políticos a altos funcionários do estado, subvenções vitalícias e pensões escandalosas. Condição essencial para restaurarmos a nossa independência financeira e recuperar a dignidade de um povo que não quer ser considerado um pedinte internacional. Só após esta estratégia corajosa, embora dolorosa, poderemos voltar ao crescimento e iniciar um novo período de progresso económico e social.
A própria Europa está em crise e todos concordam que a salvação do nobre projecto europeu virá dum novo paradigma de desenvolvimento. Mas, atenção. Já Heidegger prevenia que a resposta aos problemas da Europa não é só técnica e João Paulo II, em 1997, avisava que "a construção da Europa do terceiro milénio é um objectivo moral e político ao mesmo tempo."
Pe. António de Araújo Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário