Na era da inflação académica, com apenas quatro por cento dos jovens a optar por não ir para a universidade, a maioria dos licenciados faz uma pós-graduação para ter melhores salários.
Iris Lei, em Pequim
Trabalhar em Pequim parece ser a primeira opção para a maioria dos jovens licenciados que querem um currículo mais diversificado. Há, no entanto, uma questão a circular pela cidade: o meu trabalho adequa-se à minha formação ou é bem pago?
Em 2014, haverá sete milhões de estudantes que vão concluir o grau de licenciatura na China – é “o ano mais difícil para ter um emprego”. Sobre eles recaem os olhos dos 20 milhões de pessoas que vivem em Pequim. Para se destacarem entre a multidão, cerca de 400 mil alunos escolheram, no último ano, receber formação no exterior, segundo o portal online sobre ensino, patrocinado pelo Ministério da Educação.
Estima-se que, em 2020, haja 195 milhões de pessoas com formação superior só na China, contra os 167 milhões que formam a força laboral disponível nos Estados Unidos, noticiou a agência estatal Xinhua. Com a hiper-expansão do ensino superior é preciso reflectir sobre a capacidade da cidade para absorver uma quantidade considerável de jovens qualificados. A taxa de desemprego entre os recém-licenciados subiu para 16 por cento, enquanto os jovens que escolheram não ingressar na universidade somam-se em quatro por cento – são os que estão disponíveis para exercer profissões de colarinho azul, diz a Xinhua.
Entre eles está Dong Shuai. Trabalha como empregado de mesa num restaurante no centro de Pequim, desde que terminou o ensino secundário, há um ano. Aos 20 anos, Dong recebe três mil yuan (3823 patacas) por mês e diz que o salário é suficiente para viver, mas não chegará para comprar um apartamento, mesmo na periferia rural de Pequim.
Dong Shuai vive fora da capital para poupar mais dinheiro: gasta uma hora no trânsito para ir de casa para o trabalho e partilha o apartamento para dividir a renda de 900 yuan. Ainda assim, não passa pela cabeça do jovem regressar à terra natal, na província de Shandong, porque gosta do “ritmo de Pequim”.
O salário médio para quem trabalha no sector privado está em cerca de sete mil yuan (8928 patacas). O valor será ligeiramente superior nas empresas estatais, onde a média salarial é de 7274 yuan (9277 patacas), de acordo com os dados mais recentes do Gabinete Nacional de Estatísticas da China.
Será difícil para um recém-licenciado conseguir um ordenado equivalente ao salário médio nas empresas estatais no primeiro emprego. O rendimento mensal acaba por não reflectir o grau de formação académica, o esforço investido nos últimos quatro anos e o dinheiro gasto em propinas.
Um estudante do segundo ano da licenciatura em gestão de recursos humanos na Universidade Renmin da China de apelido Zhang decidiu começar a trabalhar por três mil yuan por mês. Falou com o PONTO FINAL no campus universitário. Zhang não tem a ambição de continuar a estudar numa das dez melhores universidades do país. Diz que decidiu começar a trabalhar devido à “forte concorrência”. “A maioria dos meus colegas de turma vai concorrer a um mestrado porque o salário duplica se fizeres mais dois anos na universidade”, conta.
Esta é a motivação para muitos dos estudantes universitários continuarem a receber formação. É o caso de Wang Xiaolon, no segundo ano do mestrado em sociologia em Universidade de Pequim. “Hoje em dia há quase um doutorado em cada carro […]. Na minha área, posso apenas trabalhar como assistente social com um salário de três mil [yuan] por mês, mas que pode ser o dobro ou o triplo ou até chegar a oito, nove mil para quem tem mestrado, já para não falar que há mais opções, como ser consultor ou coordenador de inquéritos”, diz Wang, 25 anos e à procura de um estágio.
Estudar numa das instituições de ensino mais conceituadas no mundo traz vantagens, reconhece Wang: “Não é difícil de todo encontrar um emprego em Pequim”. Mas pode ser noutra área e mal pago.
Alice Yang, no terceiro ano do mestrado em Gestão de Risco e Seguros, também na Universidade de Pequim, concorda. “Se não fores muito exigente, é bastante fácil para um estudante desta universidade encontrar um emprego”, confirma. Alice Wang falou com o PONTO FINAL dois dias depois de se ter despedido do cargo de analista num banco e de um salário mensal de dez mil patacas por mês.
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