sábado, 26 de abril de 2014
VERSOS DO CANTADOR DE SETÚBAL ( 2 )
II
As Festas a Bocage
Quem era este grande vulto
Para ser tão festejado
Que foi na vida esquecido
E só agora é lembrado?
Qual o forte motivo
Seja ele qual for
Porque dão tanto valor
Ao vulto que não é vivo?
Tão alegre e tão festivo
Dia de grande tumulto!
Vem inocente e adulto
Ver tanta nobreza junta
E admirado pergunta
Quem era este grande vulto.
Este é o senhor da festa
Poeta setubalense
Tudo isto lhe pertence
Mas p'ra ele já não presta
É a memória que lhe resta
Do que foi no seu passado
Muito se tem trabalhado
Tem-se feito vários planos
Foram precisos cem anos
Para ser tão festejado.
Deu honras à sociedade
O seu saber o fez nobre
Se chegasse a velho e pobre
Viveria da caridade!
Morreu na flor da idade
Já cansado e abatido.
Se mais tivesse vivido
Sofreria privações
Seria o que foi Camões
Que foi na vida esquecido.
Se Bocage ainda vivesse
Tudo isto agradeceria
Mas tornado pedra fria
Nada vê, nada agradece.
Com o tempo tudo esquece
Um século já tem passado.
A memória de um finado
Que sempre pobre viveu
Há cem anos que morreu
E agora é lembrado.
Ó Bocage, meu patrício
Se tu quase és meu irmão
Pede à tua comissão
Que me faça um benefício.
Fazendo esse sacrifício
É para ti uma glória.
E eu p'ra te festejar
Talvez não possa chegar
Ao pé da tua memória.
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