quarta-feira, 23 de abril de 2014

VERSOS DO CANTADOR DE SETÚBAL ( I ), no Dia Mundial do Livro








É bom ler, é divertido ler. Convidemos António Maria Eusébio (O Calafate), Cantador de Setúbal, e Bocage, para esta patuscada de palavras - escrita por Calafate aos 85 anos ...





































Bocage, dá-me licença
Que eu quero falar de ti
No mês do teu centenário
Tu morreste e eu nasci *

Bocage, tinhas nascido
Para ser astro brilhante
E eu nasci para ignorante
E nada ter aprendido.
Eu não sou nem tenho sido
O que muita gente pensa!
P´ra ir à tua presença
Do meu dever não me esqueço
Humildemente te peço:
Bocage, dá-me licença.

Sou um velho sem valor
Ao pé de ti sou um pobre:
Tu, filho dum homem nobre
E eu filho dum pescador.
Fui um simples cantador
E até isso já perdi.
Já de tudo me esqueci
Resta-me ainda o desejo
De chegar ao teu festejo
Que eu quero falar de ti.

Festas para mim não quero
Mas já tive um benefício
Louvores ao sacrifício
Tão caridoso e sincero
Agora já nada espero
Sou um pobre octogenário
Só peço a algum comissário
Que trata do teu festim
Que não se esconda de mim
No mês do teu centenário.

Só uma falta conheço
E talvez haja outras mais
São os teus restos mortais
Não estarem com o teu berço.
Sou velho, mas apareço
Ainda me não escondi.
Tu desceste e eu subi
Cada qual por sua vez:
Neste miserável mês
Tu morreste e eu nasci.


* Escrito pelo Calafate aos 85 anos, no dia 15 de Dezembro de 1905.
Bocage morreu a 21 de Dezembro de 1805.

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